Ideias irresponsáveis e incendiárias
Corre por aí a ideia que “quando não há dinheiro, não se paga”.
É verdade que quando alguém deixa de ter meios deixa igualmente de poder pagar as suas dívidas ou empréstimos. Também se sabe quais são as consequências de uma situação dessas, em termos de acesso a novos créditos e outros aspectos da vida quotidiana, que impliquem transacções em dinheiro e pagamentos.
Neste caso, o melhor é negociar com os credores e conseguir um reescalonamento da dívida, mesmo tentar um perdão total ou parcial. Ou, para quem tem uma tia rica no Brasil, pedir à velha que abra os cordões à bolsa. Só que, tias no Mato Grosso, há poucas e os sobrinhos são muitos.
Um país – Portugal, por exemplo – não é exactamente comparável à vida de uma família. Sou, aliás, dos que se opõem a que se compare um país e as suas contas públicas à situação de uma família tipo. Mas, neste caso, um certo paralelismo seria possível. Se Portugal não tem dinheiro para pagar as suas obrigações – sobretudo as externas – a melhor resposta é a de negociar. Nunca seria a de dizer que não paga. A decisão de não pagar, tomada unilateralmente, levaria à insolvência internacional, à exclusão do país de toda uma série de mecanismos financeiros e comerciais internacionais. Seriamos tratados como um estado pária.
Por isso, quem anda por aí a dizer que não devemos pagar, pura e simplesmente, só pode dizê-lo para radicalizar ainda mais um ambiente que já está a ferver. Se, ainda por cima de tudo, for uma pessoa grande a dizê-lo, temos que responder sem hesitações que assim não iremos mais longe do que ao caos generalizado.