Um exercício de cidadania
Vejo o encontro que Mário Soares organizou ontem em Lisboa como um exercício do direito à indignação, perante a situação política actual. Teve o mérito de reunir personalidades de vários matizes políticos, que partilham um ponto de vista: a oposição às medidas orçamentais que estão a ser aplicadas pelo governo, com o apoio dos principais credores externos do nosso país. Foi igualmente um momento de reconhecimento em relação a Mário Soares, quer em relação ao conjunto da sua vida política quer ainda ao facto de que, com a idade que tem, continua a batalhar pelas causas que lhe parecem justas.
Dizem-me que as intervenções foram vagas, mais retórica do que substância, mais emoção do que propostas concretas. E que os partidos políticos viram a coisa como uma espécie de grande missa, a que seria mal visto faltar, mas sem qualquer tipo de consequências práticas.
Talvez. Mas, para mim, foi um acto de cidadania. Certamente muito preferível, diga-se claramente, às greves políticas que põem à prova o que resta da economia.