O futuro de Barroso
A minha carreira internacional, sobretudo nos últimos anos, em que a responsabilidade política era maior, ensinou-me que o sucesso passa por um equilíbrio muito delicado entre o chamar os bois pelos nomes e a sensibilidade dos grandes países. Ou seja, quando a verdade precisa de ser dita deve-o ser, mas a escolha das palavras, do momento e do local são questões fundamentais. A diplomacia, como é costume dizer-se, consiste na capacidade de mandar a outra parte para o inferno com um jeito tal que deixe o adversário com vontade de fazer a viagem e ansioso por lá chegar o mais depressa possível.
As relações com os grandes países, quando se tem responsabilidades internacionais, não se fazem através dos jornais nem com declarações bombásticas. A não ser que se tenha perdido a autoridade, a capacidade de ser ouvido, ou se esteja com um pé já na rua…
Dito isto, não sei como enquadrar a entrevista de Barroso ao International Herald Tribune. No entanto, ao atacar de um modo tão claro o governo de François Hollande, o Presidente da Comissão Europeia pode ter revelado, indirectamente, várias coisas: frustração, porque a Comissão tem estado a ser ostensivamente marginalizada em tudo o que conta; presunção, por acreditar que possa estar acima dos líderes dos Estados membros, o que nunca poderá ser aceite; ou mau aconselhamento, por parte dos seus assessores políticos. Fica a questão no ar. O que é verdade, é que assim vai voltar a Lisboa mais cedo do que ambicionava. Ou então, vai seguir os passos de Tony Blair e andar por aí, a dar conselhos a governos que paguem bem.