Outra leitura do crescimento do PIB
A confirmação estatística de que o PIB português havia crescido no segundo trimestre deste ano não marcará o fim da crise. Mas é, no meu entender uma boa notícia que tem ainda o mérito de ser uma “vingança póstuma” do ex-ministro da Economia. Na verdade, algum crédito haverá que ser dado a Álvaro Santos Pereira.
A história deste ex-ministro ainda está por contar. Santos Pereira foi, desde o início do seu mandato, atacado por um grupo inspirado por Paulo Portas e pelo seu grupo de lacaios políticos. A comunicação social, sempre à procura de ruído e pronta a embarcar às cegas em campanhas que por vezes não entende nem sabe que interesses servem, aproveitou a boleia e lançou-se ao homem.
A verdade é que Santos Pereira foi um governante interessado em fazer coisas, em desfazer interesses instalados e em dar a volta à economia. Fê-lo com a inocência de quem de fora dos partidos e dos jogos de intrigas, convencido que, por ser ministro, tinha poder.
Esqueceu-se, no entanto, de várias coisas. De que em Portugal não vinga na política quem vem de fora e mantém uma posição independente. De que aqui não se dá autoridade nem respeito a quem não pertença às elites aristocráticas, ou maçónicas ou da Igreja. Ou às velhas famílias políticas do regime. Esqueceu-se também que temos uma economia de grandes empresas que se habituaram a viver à manjedoura do Estado. Quando se tenta cortar-lhes a ração, a resposta é a de dar coices. Não percebeu que para Portas, e o que ele representa, o controlo de parte da economia é vital para a sobrevivência do seu partido. E não entendeu que muita da nossa classe jornalística se deixa manipular, consciente ou inconscientemente, e vive do morder as canelas de quem por aí anda.
Assim, uma “vingança” de 1,1% de crescimento foi uma boa notícia.