O mercado como catedral
Tornou-se um ritual. No segundo Sábado de cada uma das minhas estadas em Riga deambulo pelo mercado central da cidade. É um prazer. Tudo limpo e arrumado, e ao mesmo tempo diferente do que é hábito na Europa em que vivo o resto do ano. Para além de uma enorme variedade de bagas, colhidas nas florestas bálticas e próprias do Norte da Europa, muita da fruta vem da Turquia e do Uzbequistão, alguma da Geórgia ou do Azerbaijão – sobretudo as melancias. Há toda uma área que só vende flores, que oferecer flores faz parte da cultura quotidiana das pessoas daqui. A zona dos talhos está num hangar numa das pontas do mercado. Na ponta oposta, estão as bancas de venda de peixe. A carne é barata, raramente as melhores partes indo além dos 12 euros por quilograma. O peixe ainda é mais em conta e a variedade é muito diferente da que vemos em Portugal. Há muita lampreia, esturjão, enguias e outros peixes de rio, todos com um ar que mete medo, para além do inevitável salmão de cultura. Muito do peixe é vendido fumado. Fumar o peixe é uma tradição que vem dos tempos de outrora e que continua a fazer parte dos gostos de agora.
Tudo é uma curiosidade que vale a pena explorar. E tudo se passa num ambiente quase sem ruído. Ir ao mercado em Riga é, por isso, no silêncio das cores e na beleza das pessoas, uma espécie de viagem espiritual.