Ventos secos e dirigentes ressequidos
Ontem, foi dia de Suão, aqui conhecido como Harmatão, o vento seco e poeirento do deserto a cobrir a luz do Sol, com a internet a ir-se abaixo, como se tivesse medo das tempestades de areia. É o nosso Inverno / Inferno.
O plano de escrever sobre o desaparecimento de Lanzana Conté desfez-se na noite fresca do Sahel.
A verdade é que houvera seguido a vida política do falecido Presidente (absoluto) da Guiné-Conakry de perto, durante alguns anos, e havia uma ou duas histórias para contar. Senhor de um país rico, quer em recursos naturais quer em cabeças e capacidades humanas, para mim Conté foi toda a sua vida um Presidente-aldeão, mais do que um Presidente-soldado, uma etiqueta que alguns observadores gostavam de lhe colar. Lembro-me de se contar que um dia um dos ministros lhe trouxe as queixas dos habitantes de Conakry, por causa de não haver luz eléctrica na capital. O Presidente respondeu: " Mas eles vêm donde? Não é do mato? E no mato, há luz? ".
Um bicho-do-mato.
Foi o único Presidente que nunca respondeu a chamadas telefónicas que George W. Bush lhe fez, antes da invasão do Iraque. Nessa altura, a Guiné tinha assento no Conselho de Segurança. O Presidente americano telefonou um par de vezes, para tentar convencer Lanzana Conté a apoiar o projecto de resolução que havia sido apresentado. Nunca conseguiu falar com ele, nem a chamada teve qualquer tipo de resposta.
A sua longa passagem pelo poder levou muitos Africanos a dizer que o nome Guiné era um nome de países malfadado. Nenhuma das Guinés, a de Malabo, Bissau, ou de Conakry, consegue sair das crises profundas que as caracterizam, incluindo a Papua Nova Guiné.
Com o seu desaparecimento é mais um capítulo da velha geração de líderes desfasados dos tempos modernos que se fechou. Esperemos que a Guiné, que para além de tudo o mais, tem belezas naturais extraordinárias, consiga dar a volta às cliques militares e chamar a si muitos dos civis ilustres que aí nasceram e que entretanto se espalharam pelo mundo.