A reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros continua esta noite em Bruxelas. Durante a tarde foi discutida a situação no Egipto. Os ministros recomendam que haja eleições democráticas o mais cedo possível. É um bom conselho. Mas espero que a equipa do Dr. Rui Pereira não tenha nada que ver com a organização dessas eleições.
Falando dessa equipa, que está cada vez mais famosa, já não bastava as suas relações com a gente estranha e pouco recomendável da Maçonaria e as infelicidades à volta dos carros blindados da PSP, o programa de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, abordou a questão do registo eleitoral. Marcelo chegou à mesma conclusão que eu já havia apresentado uns dias antes, neste blog, ou seja, que haverá, pelo menos, cerca de um milhão de eleitores portugueses inscritos nos cadernos sem se saber bem donde vêm. Foi pena que o professor tivesse passado por essa trapalhada tão rapidamente. Merecia mais tempo. É um assunto importante e, certamente, indiciário de outros problemas.
Certos governos europeus andam distraídos, quando se trata das nomeações e do estabelecimento do serviço diplomático comum. A Baronesa, a chefe do serviço, tem colocado nos postos de importância gente do Reino Unido ou dos países nórdicos. À farta.
Os britânicos ficaram à frente das direcções Ásia, África, África Oriental e Oceano Índico, da Prevenção de Conflitos e da Política de Segurança, bem como dos Recursos Humanos. Outras áreas importantes, como a da Inteligência e a presidência do Comité Político e de Segurança, foram entregues aos escandinavos.
O pessoal do Sul da Europa - Itália, Espanha, Portugal, etc - levou zero. Mesmo a França viu a maior parte dos seus candidatos serem recusados.
O mais estranho é que ninguém fala disto. Será que a Baronesa mete medo?
Os tradutores cibernéticos não podem ser utilizados para produzir traduções literárias. Mas os programas disponíveis na net são suficientes para entender textos escritos noutras línguas.
Vem isto a propósito de um relatório que o Instituto Polaco das Relações Exteriores acaba de publicar. Passa-se o documento pela máquina e em menos de um minuto temos à nossa frente algo que faz sentido, embora não seja perfeito.
O relatório faz uma análise da situação actual do serviço comum da diplomacia europeia. Dos 115 embaixadores que representam a UE pelo mundo fora, 66 provêm de apenas cinco países: Alemanha, Bélgica, França, Itália e Holanda. Ou seja, de estados que são membros fundadores da União.
Se se juntar a esse pequeno grupo a Espanha e o Reino Unido, teremos sete países com 86 postos de chefia de missões diplomáticas. Os 30 postos restantes repartem-se pelos vinte outros estados membros.
Numa União que fala sem parar da igualdade do género, só 15 postos de chefia de missão são ocupados por mulheres.
O resto do estudo faz uma análise mais fina, país por país. Mostra, por exemplo, que em África quem dá cartas em termos de postos são as antigas potências coloniais.
É um excelente trabalho do Instituto polaco, uma arma de negociações muito importante. Mostra que em Varsóvia não se anda a dormir na forma, nem a apanhar Sol nos Algarves que são os nossos.
Em Setembro vão ser conhecidas as novas nomeações. Pelo menos, a primeira onda. Veremos até onde a Baronesa Ashton consegue chegar.
Chefe da missão da ONU preocupado com a possibilidade de as autoridades chadianas assumirem o controlo da segurança no país
A região do Darfur é "explosiva" e há um "grande risco" para refugiados e pessoal internacional se as Nações Unidas não renovarem o seu mandato no Chade no próximo mês, alerta o chefe da missão da ONU no país, o português Vítor Ângelo.
Vítor Ângelo, que termina o seu mandato e também a sua longa carreira nas Nações Unidas a 15 de Março, está preocupado com a possibilidade de as autoridades chadianas assumirem o controlo da segurança no país, agravando o que considera ser o futuro "grande problema de África". Para o chefe da missão das Nações Unidas no Chade (MINURCAT) e representante do secretário geral da ONU no país, "esta região é muito explosiva, está em crise, que se vai agravar com a evolução da situação no Sudão e sobretudo com a possibilidade de o Sudão se cindir em dois países", disse, o diplomata português à Lusa, numa entrevista concedida antes de ser conhecido o pedido do Governo do Chade para serem retiradas as forças da ONU.
A zona de fronteira do Sudão e o Chade e a República Centro Africana "são os barris de pólvora de amanhã", alerta Vítor Ângelo.
A situação vai ficar muito complexa" com eleições previstas no Sudão em abril e o referendo sobre o futuro do sul do país, no próximo ano, sendo "fundamental" que o Chade garanta a segurança na fronteira ao longo do Darfur e dentro do seu próprio país.
Segundo Vítor Ângelo, a MINURCAT está "a ser vítima do seu próprio sucesso" e os ganhos dos últimos meses em matéria de segurança "não são sustentáveis" se transitarem para o Governo de Djamena.
"As autoridades do Chade mobilizaram um grande número de soldados, entre 25 mil e 30 mil, para a fronteira entre o Chade e o Sudão", disse Vítor Ângelo, alertando para a situação no interior do país, onde "só as Nações Unidas" podem garantir a protecção das populações, do pessoal da organização e ONG.
O país "precisa de muito apoio da comunidade internacional, muitos recursos, de uma grande presença militar e de polícia, e só as Nações Unidas podem oferecer estas condições", disse o chefe da MINURCAT.
Se as Nações Unidas partirem a 15 de Março, "há um risco muito grande de voltarmos a ter ataques contra os humanitários, funcionários da ONU e sérias violações nos campos de refugiados".
O barril é o Sudão, no seu conjunto. Por causa das eleições que se aproximam, do referendo sobre a independência do Sul, das dissenções internas, no círculo dirigente, em Cartum. Dos conflitos entre etnias e dos jogos de interesses associados a essas querelas. Um barril que poderá fazer explodir outros, na região africana onde o Sudão se insere.
A política da UE em relação ao Sudão e à região não tem fôlego, nem direcção. Trata-se, aliás, de mais um exemplo de como a política externa da Europa é uma mera construção ilusória. Não existe, não se manifesta, não conta, e os principais Estados europeus não querem investir numa posição comum. Querem, isso sim, manter o seu peso individual.