Objectivamente, a comunicação do Presidente da República era a única possível, neste momento. Estamos num regime constitucional que tem as suas regras e que deve ser respeitado.
Foi, igualmente, uma declaração bem estruturada.
Marca o início da segunda parte da acção do governo. Como no futebol, vamos ver se preparação da segunda parte teve em conta os erros de táctica que foram ocorrendo na primeira metade do desafio.
A conclusão a que chego esta noite é muito simples: os dirigentes políticos que temos não estão à altura do desafio, num momento da História de Portugal tão grave como o presente.
Afirmar a soberania portuguesa sobre o arquipélago das Selvagens e o mar circundante é fundamental para os nossos interesses nacionais. A visita do Presidente da República a essa parte remota do território de Portugal deve ser vista sob essa perspectiva.
A deslocação tem também o mérito de nos lembrar que somos acima de tudo uma nação com vocação marítima. Mas, ao mesmo tempo, faz-nos ver que não temos dado atenção suficiente à nossa presença no Atlântico Norte. Ou seja, não temos sabido ligar a Madeira e os Açores, de modo mais estreito, aos nossos interesses estratégicos e ao resto do território nacional. Nem temos investido suficiente na marinha nacional, no patrulhamento naval, no exercício da nossa soberania sobre o espaço marítimo.
Estamos num momento que exige atitudes positivas e construtivas. Deixo, por isso, a crítica negativa para outros.
A declaração feita pelo Presidente da República terá os seus adeptos e os seus detractores. Mas tem, pelo menos, o mérito de pôr em evidência a gravidade da situação económica e social em que nos encontramos e de mostrar que não existem soluções simples nem tradicionais para a crise. Os partidos devem, de facto, procurar chegar a um compromisso alargado, tão amplo quanto possível. Um compromisso histórico para um momento histórico. Sem ressentimentos, com os olhos postos no futuro, não no passado. Ao responderem ao apelo, os dirigentes políticos terão a oportunidade de mostrar por que bitola vão querer ser medidos: a partidária, das vantagens de grupo e de clientelas, ou a do interesse nacional.
Um compromisso que deve igualmente mobilizar as organizações representativas dos interesses económicos e sociais, incluindo os principais movimentos sindicais.
Objectivamente, não dá para acreditar. Por outro lado, baixar os braços não é solução. Como também o não é partir a loiça. Que se saiba, no entanto, que não se tem fé na coisa nem nas gentes que a personalizam.
Lá fora, dá apenas para fingir que não há problema de maior. Assim se vive hoje na Europa, nomeadamente em relação aos que sendo um problema duradoiro não têm muito peso e podem ser mais ou menos ignorados.
Em matéria de teatro, acabar a peça no final do primeiro acto seria um desapontamento. Antes do intervalo, há sempre drama. Depois, cai a cortina. Volta, agora, a subir, para o acto seguinte. Ou seja, o espectáculo, para grande alívio nosso, vai continuar. É verdade que isto é um teatro de província e que, por isso, os actores são de segunda escolha. Mas mesmo assim, vale a pena ver como se vai desenrolar a segunda parte, que cenas trágicas vão ser encenadas, e que vai acontecer aos vilãos do enredo.
O encenador será fraco, mas será que temos meios para mais?
A visita da Presidente do Brasil a Portugal num dia de feriado nacional como o de hoje, em que as mais altas autoridades do Estado português estavam comprometidas com tarefas oficiais inadiáveis, só poderia dar azo, como deu, a equívocos políticos e a erros protocolares. Por exemplo, como aceitar que um Chefe de Estado estrangeiro se reúna primeiro com a oposição antes de ter encontrado o seu homólogo?
Andamos, de facto, todos às avessas…
Foi uma maneira surrealista de comemorar o 10 de Junho.
“Roteiros do Futuro”: são uma iniciativa do Presidente da República, que se traduz em conferências sobre temas estratégicos portugueses.
A conferência de 2012 foi sobre a demografia portuguesa.
A de este ano, que acaba de ter lugar, procurou debater o papel de Portugal no mundo, o nosso posicionamento enquanto Estado e Nação num sistema de relações internacionais que está a mudar rapidamente.
Irei ler com atenção as comunicações feitas durante esse encontro de um dia. Receio, no entanto, que muito do que se disse tenha mais de lírico do que de verdadeira estratégia. É que nós, os Portugueses, temos o hábito de andar com a cabeça no ar. Chama-se a isso tomar a nuvem por Juno!
A comunicação do primeiro-ministro ao país era esperada com grande interesse. Que iria ser anunciado, depois da decisão do Tribunal Constitucional, e das reuniões extraordinárias – do Conselho de Ministros e com o Presidente da República – que se lhe seguiram? Que medidas políticas, a começar pela composição do governo, e que ajustamentos orçamentais seriam propostos?
Ou seja, que iria mudar, depois das circunstâncias da governação terem sido postas em causa pelo acórdão do Tribunal Constitucional e por outros acontecimentos recentes?
A resposta ficou por dar. A expectativa não teve resposta suficiente.
Dizer que haverá maiores restrições nas despesas públicas, em particular na Saúde, Educação, Segurança Social e nas empresas públicas, não chega, é apenas vago e gerador de oposição.
Mas acima de tudo faltou uma resposta política aceitável. Apontar o dedo ao Tribunal Constitucional é um erro pesado, é a má resposta política. O Tribunal fez o que tinha que fazer e nada mais. Há que respeitar o julgamento a que chegou. Reconhece-se isso e passa-se em frente. E foi o passar em frente, o olhar para as alternativas que faltou neste fim de dia.
Vamos ter que continuar a aguardar. A crise continua.