A decisão do Banco Central Europeu, que anunciou estar disposto a comprar obrigações de países da zona euro que estejam a seguir um programa formal de reformas estruturais, é uma boa notícia. É também um convite, para que a Espanha e a Itália pensem a sério na reforma das suas finanças públicas. Por isso, nos próximos dias e semanas convirá estar atento aos sinais vindos desses dois países.
Muito do futuro da Europa passa por Madrid e Roma. Creio, no entanto, que Mariano Rajoy é um problema bem maior do que os políticos italianos.
Entretanto, em Portugal, a taxa de crescimento do pessimismo continua de vento em popa. Só é superada pela elevada percentagem que a cacofonia de ideias ligeiras consegue atingir, todos os dias. Mas a verdade é que os portugueses gostam de foguetes e de facadas no ar. Chamam a isso "debate de ideias".
Voltando ao tema da crise, soube-se hoje que a população belga tinha, nos finais de Julho último, 229 mil milhões de euros guardados em depósitos de poupança. Em um ano, o valor das poupanças das famílias registado nos bancos - não se sabe quanto está escondido debaixo dos colchões, nem quanto está em contas fora do país - aumentou de 10 mil milhões de euros.
O valor dos depósitos de poupança é muito elevado e continua a crescer, por causa da crise. Sim, por causa da crise. As famílias estão com medo do futuro e poupam mais. E, por outro lado, não estão a investir as suas poupanças em acções e obrigações, por falta de confiança na economia global e, especialmente, na europeia.
Entretanto, também durante o mês de Julho, a população espanhola retirou dos bancos cerca de 75 mil milhões de euros. A principal razão tem que ver com a pouca confiança na solidez do sistema bancário nacional.
Segundo oiço dizer em Bruxelas, o nosso país vai precisar de mais dinheiro e de mais tempo. Ou seja, uma das recomendações implícitas no exame que agora está a ser feito - a chamada visita da Troika - irá no sentido de um programa II. Que reforce as verbas postas à disposição de Portugal, que defina um calendário novo - todo ou uma boa parte do ano de 2014- para a execução da medidas de reforma. Tudo isto no entendimento que o governo irá continuar a reduzir a despesa pública e a procurar, sem tréguas, manter o desequilíbrio orçamental abaixo dos 3%.
O governo britânico é um grande amigo dos bancos ingleses. Não existe, na UE, uma administração que tenha gasto tanto dinheiro dos contribuintes como a de Sua Majestade.
Embora seja difícil de ter uma ideia clara dos números, a verdade é que o dinheiro dos contribuintes britânicos tem sido generosamente utilizado para salvar os bancos do país. Desde 2008, pelo menos 82,9 mil milhões de Euros foram despendidos pelo governo em diversas intervenções de recapitalização dos bancos privados da Grã-Bretanha.
Por outro lado, a impressão de moeda pelo Banco da Inglaterra -- 50 mil milhões de libras há três dias, a terceira vez em dois anos -- tem beneficiado acima de tudo o sistema bancário privado.
Fico com a impressão, ao fim do primeiro dia útil, após o "empréstimo bancário" feito à Espanha, que muito está errado.
Primeiro, as pessoas não entendem por que razão se "empresta" aos bancos, quando são as empresas da economia real que produzem riqueza e precisam de ser salvas. Sem esquecer o endividamento dramático de muitas famílias.
Segundo, empresta-se aos bancos, mas quem terá a responsabilidade de pagar, quem é o fiador, é o estado, ou seja, todos os contribuintes.
Terceiro, surge um sabor amargo, que nos faz pensar que este "empréstimo" não irá impedir o estado espanhol de ter que pedir um plano de resgate das finanças públicas.
Quarto, que se isso acontecer, será uma machadada muito grave no que resta da credibilidade dos dirigentes políticos europeus.
Quinto, se a Espanha entrar em derrapagem e pedir ajuda para a sua dívida soberana, a seguir virá a Itália.
Sexto, dar a entender que a Espanha recebe um tratamento diferente - o que não é o caso, mas o que conta é a percepção popular - coloca os outros países que estão a executar programas de ajustamento em dificuldades, políticas sobretudo.
Sétimo, quando Rajoy diz que tudo isto é uma vitória para a Espanha não só está a tentar enganar o povo, como também está a irritar os dirigentes dos países europeus que têm pela frente a tarefa nada fácil de tentar convencer as suas populações que a ajuda a Espanha é para o bem de toda a UE.
E assim sucessivamente, até se dizer que se as coisas dão para o torto desta vez, então ...adeus Europa.
Mas nem tudo são más notícias. Nadal venceu o torneio de Roland Garros...Mas cuidado com a euforia! Nadal é maiorquino, das ilhas...É verdade que seria pior para os de Madrid se Rafael fosse catalão...Mas anda lá perto...
Ao ouvir Mariano Rajoy dizer que não se trata de um resgate mas sim de uma linha de crédito, pensei mais uma vez que com dirigentes políticos assim, a Europa não vai lá. Um dirigente que ainda acredita que se pode lançar poeira aos olhos do povo europeu está fora do seu tempo. As pessoas estão hoje mais informadas do que nunca.
Embora ainda não se saiba bem quais são as condições do pacote financeiro de que a Espanha vai beneficiar, fica-se desde já com a impressão que a maior preocupação de todos foi a de salvar a cara do governo de Mariano Rajoy.
Esta maneira de fazer as coisas -- escondendo a fraqueza dos líderes por detrás de uns biombos rotos, de umas meias verdades e de uns falsos pretextos -- tem sido prática corrente em Madrid. O que se passou nos últimos anos com a descentralização, dando uma autonomia injustificada às mais diversas regiões do país, foi uma cortina de fumo para esconder as cedências de Madrid à Catalunha. Em vez de se reconhecer que as exigências de Barcelona eram despropositadas, acedia-se, e para disfarçar, davam-se as mesmas vantagens a outras partes de Espanha que as não haviam pedido, nem tinham condições para as administrar.
A falta de coragem e de transparência dos políticos são dois dos grandes males actuais, lá como noutros sítios.
O governo espanhol quer ajuda comunitária para cerca de 50% dos bancos privados, mas sem condições nem programa de reforma económica. Ajuda sem acordo nem indicadores de progresso aceitáveis para quem disponibilizaria o dinheiro. Apenas porque a economia espanhola é a quarta maior da eurozona, um peso pesado...talvez não tão pesado quanto pensa...