Convido-vos a ler o texto que escrevi, em parceria com Marc de Bernis, antigo representante residente do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) na Argélia. O objectivo é o de demonstrar que o Mali é diferente do Afeganistão.
A conferência de Tunis sobre a Síria foi um sucesso. Primeiro, por ter tido lugar. Depois, pela participação de vários estados, cerca de 80. Terceiro, pelo reconhecimento que deu ao Conselho Nacional Sírio, uma coligação de várias forças civis no exílio. Ainda, por ter insistido na questão mais imediata, o fim da violência contra civis.
Assad ficou mais isolado. Até o dirigente do Hamas, na Faixa de Gaza, Ismail Haniyeh, se virou hoje contra o Presidente sírio, apesar de ter beneficiado, durante muitos anos, do seu apoio político e material.
Não se pense, no entanto, que o regime está em vésperas de cair. Infelizmente, ainda vai correr muito sangue inocente. A não ser que a partir de 4 de Marco, após as eleições russas, Putin mude de postura. Em política, nunca se sabe.
Como previra há meses, num artigo sobre o Sudão, publicado na Visão, o governo de Cartum começou agora uma ofensiva militar contra a região fronteiriça de Abyei. E contra as tropas do Sul Sudão. Esta agressão, se não for parada a tempo, pode provocar uma catástrofe humanitária e reacender o conflito armado entre o Norte e o Sul do Sudão.
Tendo em conta que os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE se reúnem amanhã, enviei uma ou duas mensagens sobre o assunto a gente com influência. O ministro sueco, Carl Bildt, um dos melhores da União, acaba de me assegurar que o assunto será debatido em Bruxelas, na reunião de amanhã. E que lutará para que a posição europeia seja clara, sem ambiguidades.
Os dirigentes de Cartum precisam de perceber que pisar o risco e faltar ao respeito pela comunidade internacional são ilegalidades com um preço elevado.
Defendo que o Secretário-geral da ONU deveria fazer o possível para que uma missão de avaliação humanitária pudesse fazer uma visita de terreno à Líbia.
A visita deveria ter lugar amanhã ou depois, sem mais demoras. Ban Ki-moon terá que entrar em contacto com as partes em conflito, governo de Kadhafi e comité de coordenação da rebelião, e obter o acordo de ambos os lados.
Esta iniciativa servirá para reduzir o nível de tensão e mostrar que a comunidade internacional está pronta para encarar outras opções, para além das militares. Na verdade, com a criação das condições militares para que uma no-fly zone seja possível, o que já está conseguido, é o momento de deixar a diplomacia tomar a iniciativa.
Estou em fim de viagem, mas, mesmo assim, quero dizer, alto e bom som, que a Comissão Europeia e os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus estão todos, face à crise humanitária na fronteira entre a Líbia e a Tunísia, a dar a impressão de andarem a apanhar bonés.
Aquela conversa bonita, muito intelectual, cheia de referências a estratégias, que de vez em quando ouvimos, é só para disfarçar a incompetência.
Uma vergonha.
Uma grande falta de sentido de responsabilidades e de coragem política.
A capacidade de gestão de crises, bem como a capacidade de resposta rápida às crises humanitárias, são duas áreas em que a fraqueza das instituições europeias é bem clara. Tratam-se, no entanto, de matérias comunitárias, em que uma actuação conjunta faz sentido.
Por que será que este pássaro me faz pensar na burocracia da União Europeia? Ou será que me faz pensar na competência dos líderes da máquina de Bruxelas?
Ontem estive no Porto, para fazer um palestra pública sobre as questões de Segurança Humana e Nacional. Foi uma iniciativa do Instituto de Defesa Nacional. O Instituto tem uma direcção dinâmica, ainda em princípio de funções, que tem levado a cabo iniciativas interessantes, com o apoio de quadros superiores bem preparados e com empenho. É um instituto que abre a porta a debates corajosos e procura recolher opiniões diversas, para ajudar o Ministério da Defesa na tomada de decisões.
A conferência decorreu no auditório de uma das fundações sediadas no Porto, a Eng. António de Almeida. Esta fundação tem condições de trabalho e de logística muito boas. Está situada numa zona privilegiada da cidade.
A imprensa deu algum destaque ao debate. Só que confundiu "debriefing", o processo de recolha de informações e de experiências, após uma campanha de terreno, com "briefing". O "briefing" faz-se antes da partida para o teatro de operações, de modo a dar uma panorâmica geral, informações genéricas de base, a quem vai estar na frente de combate.
Foi curioso ver gente vinda de Aveiro, Lamego e de Vila Real, de propósito, para estar presente na palestra. Como também foi interessante notar a importância dada à capacidade de resposta às calamidades e desastres naturais. Existe uma preocupação sobre o assunto. Muitos pensam que é uma ameaça importante, incluindo no nosso país, e que não se dá atenção suficiente aos meios necessários para uma resposta rápida, em caso de crise. Como também se pensa que a União Europeia não está equipada para responder eficazmente a este tipo de problemas.
Escrevo na revista Visão de hoje um texto sobre uma possível crise civil e humanitária no Sudão.
Creio que é fundamental chamar a atenção dos líderes da comunidade internacional.
O referendo no Sul do país vai ter lugar a 9 de Janeiro. Assim fora acordado quando a paz entre o Norte e o Sul foi assinada, em 2005. O Sul vai certamente votar pela independência. O Norte parece resignado. Não tem muitas outras hipóteses, para além de aceitar a decisão popular.
Mas há um problema que não está resolvido. É o da região de Abyei, uma zona de transição entre as duas metades do país. Também aí deveria haver um referendo em Janeiro de 2011. Mas Cartum e Juba não se entendem. O recenseamento eleitoral não teve lugar. As populações estão revoltadas e há armas em várias mãos milicianas.
O potencial de um conflito armado existe.
Cabe à comunidade das nações ajudar as duas partes a ultrapassar esta situação explosiva. Caso contrário, haverá muito sofrimento humano.
O Presidente da Comissão Europeia, JM Barroso, respondeu à carta que recebera de N Sarkozy e que mencionei no poste de ontem.
A resposta, bem articulada, lembra que a UE foi a primeira instituição que disponibilizou fundos e volta a acentuar o papel da Direcção Geral ECHO, a estrutura de trabalho humanitário, na coordenação das intervenções europeias. Refere ainda que a utilização de meios militares na área da logística humanitária, uma sugestão feita pelo Presidente francês, tem que obedecer a critérios muito estritos. A intervenção humanitária é sempre muito arisca a uma qualquer associação com meios militares. Contra, para ser mais preciso. Tive várias vezes a oportunidade de o notar, no meu trabalho de campo.
A questão é que a Comissão não tem gerido bem a parte relações públicas da sua resposta de urgência. Sobretudo numa crise marcante, visível, como esta do Paquistão. Ainda hoje, e um bocado por influência da carta do Presidente Sarkozy, tivemos um exemplo disso: 30 milhões de euros de ajuda suplementar, a juntar aos 40 que já haviam sido aprovados, foram decididos esta manhã. Mas quem ouviu falar disso?
A 23 de Agosto, a Comissária Kristalina Goergieva, a responsável pela pasta humanitária, visita o Paquistão. Dir-se-ia que mais vale tarde do que nunca. O que é indiscutível é que já deveria ter feito essa viagem. Agora, parece que vai a mando, ou por medo, de Sarkozy.
Não haverá no gabinete do Presidente da Comissão quem pense nestas coisas de modo um pouco mais atento, rápido e com a oportunidade estratégica necessária?