O vento sopra devagarinho.
Longe do terreno de operações, é verdade, mas em contacto. Nas últimas 24 horas tivemos uma emboscada contra uma das mulheres que se ocupa da segurança, tiros, cinco homens em camuflado militar ao ataque, donde viriam, pergunto, o pânico, o carro a tentar escapar ao assalto, a virar-se no terreno instável, uma situação que traz mais dores de cabeça e aflições.
Também ocorreu um acidente com uma das equipas de pilotos de helicópteros. Uma festa mal sucedida. Vodka. Mais vodka, que os pilotos provenientes das terras frias nem sempre se lembram que estamos em zonas secas. Feridos. Uma corrida louca para o nosso hospital militar, acidente, à entrada da base, precipitação, mais feridos, novo embarque, sempre a caminho do hospital, mas o piloto que fazia de motorista, turvado pela pressa, o álcool, a confusão, entra a direito na base, esquece-se que a entrada faz um S de segurança, vai de frente contra as barreiras de protecção, mais outro ferido, mais confusão, há dias assim, em que os estragos são por nossa conta.
Entretanto, um mundo diferente gira à minha volta. Hoje. Um mundo onde se navega num lago de tranquilidades e facilidades, como se a vida fosse um jardim de flores cor creme e roxa, em que uns têm tudo, e outros vivem num Portugal que não paga os salários em atraso, que rouba a criatividade dos que sabem fazer coisas, um país que recompensa o esforço com misérias, e que se deixa andar, sem tino nem moral, ao abrigo da pequenez que somos e do vento que sopra devagarinho.