Continuo em Charllotenburg, que é um bairro desafogado de Berlim. Fui jantar, há momentos, num restaurante italiano, que serve os seniores endinheirados da zona. Quatro ou cinco italianos, a falar meio alemão, meio a língua deles, tudo muito "relaxe", tomam conta do estabelecimento.
Como a minha mesa era composta por gente vinda de fora, não houve factura, a conta foi feita à mão, numa folhita de papel, nada de impostos ou IVA, tudo muito à vontade, a três quilómetros do gabinete de Angela Merkel.
Fiquei a pensar que afinal Berlim não fica muito longe de Atenas, Palermo ou Trancoso...
O último dia de Agosto fica marcado por um tempo de inverno e mais austeridade. Chuva e novas cargas fiscais, numa altura em que se esperava Sol e um plano que trouxesse alguma esperança aos portugueses.
Sem esquecer que o ministro e o seu chefe continuam a não dizer nada que se oiça sobre o escândalo que é o governo da Madeira.
Uma vez mais, ninguém tem a coragem política de olhar para as muito sérias irregularidades que se praticam na governação da responsabilidade de Alberto João Jardim. O ministro volta, novamente, a "aconselhar" o Alberto João a pensar num programa de ajustamento, com o FMI, como se a Madeira fosse um estado vizinho, ao qual se daria uma conselho de boa vizinhança. E nada mais.
Só há uma palavra para resumir tudo isto: inaceitável.
A Espanha está a ganhar a confiança dos mercados. Adoptou medidas económicas claras em Maio, num pacote único. Que incluiu uma redução imediata da despesa pública, com cortes nos salários na ordem dos 5% para todos os funcionários, limites nas pensões de reforma mais elevadas, e na ajuda externa. Não optou pela política das mijinhas, tão praticada deste lado da fronteira, do género, hoje corto aqui, amanhã corto ali, no dia seguinte subo mais um imposto, anulo mais uma vantagem fiscal, enfim, um rodopio de pés de dança que é próprio dos fracos e dos incompetentes, de quem não conhece a música, dos maus dançarinos.
Os operadores económicos querem certezas, não querem um rosário de indecisões e de medidas avulsas.
Convém lembrar que se trata de um governo socialista. As questões de natureza ideológica são importantes. Definem as grandes opções. Mas, quando se está perante uma crise profunda, a ideologia é notoriamente insuficiente. É preciso mostrar competência.
Tempos muito preenchidos. Os principais dirigentes europeus, há uns dias a dizer que tudo estava sob controlo, que o problema estava resolvido, agora, a mostrar o contrário, a aprovar um fundo de 750 mil milhões de euros, para estabilizar a moeda única. Um montante que faz sonhar com a estratosfera, mas que não seguraria a a crise, caso a Espanha entrasse em crise de pagamentos. A economia espanhola não tem comparação nem com a grega nem com a portuguesa. A dimensão é outra. A fragilidade da Espanha advém, em parte, da fragilidade portuguesa, já que os vizinhos são credores de uma boa parte da nossa dívida pública e têm muitos interesses económicos em Portugal.
Por outro lado, nós precisamos de uma recuperação rápida da economia espanhola, pelo impacto positiva que terá sobre a nossa situação.
Em Portugal, o cheiro a crise é cada vez mais intenso. O encontro dos antigos ministros das finanças com o Presidente da República deu um mau sinal aos investidores e decisores financeiros estrangeiros. É entendido como uma confirmação de crise iminente. Não ocorreu na melhor altura. Também não se percebeu bem para que serviu, fora o protagonismo dado a um ou outro indivíduo. Deveria ter sido adiado.
A questão central continua a ser a do endividamento público e das famílias. Para responder à parte pública da questão, o governo começa a dizer-nos que vai ter que aumentar o IVA e fazer aparecer outros impostos. É a receita tradicional. Espremer o limão. Só que as famílias estão sem elasticidade financeira. Vamos ter mais privações, mais contracção do consumo e mais dramas de insolvência.
Para completar a fotografia do dia, Gordon Brown decidiu colocar o lugar de chefe do seu partido a prémio. Quem será o novo dirigente, uma pergunta que agora fica no ar, neste fim de percurso para Brown. Mas, mais importante, irá este gesto permitir uma aliança de governo entre os Trabalhistas e os Liberais Democratas? Seria melhor para a Europa se isso viesse a acontecer.
A propósito das eleições britânicas, o meu texto desta semana na Visão tem atraído um sem número de atenções e comentários. Para além do mérito, que reconheço, na indignação expressa por alguns, nem sempre houve serenidade na escrita dos meus leitores. Mas a verdade é que andamos todos muito agitados. São tempos de crise. E de erros. As crises requerem solução e os erros pedem que não se repitam.