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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Dia de Natal, mas diferente

Os grupos rebeldes, que iniciaram uma ofensiva armada contra o regime do Presidente François Bozizé, na República Centro-africana há umas semanas, continuam a avançar em direcção à capital, Bangui. A sobrevivência do governo está em risco.

 

Nada disto faz parte dos títulos da informação social ao nível internacional. Quem se interessa por uma terra maior do que a França, mas perdida no meio de África, com cerca de 3 milhões de habitantes?  

 

Os quadros mais seniores das Nações Unidas nesse país passaram uma boa parte do dia de Natal, hoje, reunidos, para uma análise da situação e para decidir como proteger o staff e poder, ao mesmo tempo, continuar a missão de paz de que são responsáveis.

 

Foi, para esses homens e mulheres, um Natal diferente daquele a que, por estes lados, estamos habituados. 

Bangui

Telefonaram-me de Bangui, o que deu para recordar os anos que vivi nessa cidade, de 1985 a 1989, bem como as responsabilidades mais recentes, em matérias de segurança e protecção humanitária, que me faziam estar no país uns dias em cada mês, entre 2008 e 2010. Conheço bem a terra e as gentes. 

 

A República Centro-Africana é um dos países "esquecidos" pela opinião pública internacional. A ONU continua,no entanto, a manter uma presença importante e a contribuir para a estabilização política e a democracia. 

 

Ainda existem, por outro lado, algumas famílias portuguesas, o que resta das muitas que haviam nessas paragens. 

Polícias em operações de paz

A missão operacional, no Chade, dos elementos do GOE da PSP ficou hoje concluída. Voltaram de N'Djaména num voo da ONU.

 

Desde inícios de 2008, houve cinco rotações, cada uma com 12 homens, o que permitiu a presença no terreno de cerca de setenta elementos da nossa polícia de operações especiais. A sua tarefa era a de assegurar a segurança pessoal da liderança da missão de paz das Nações Unidas naquele país e na República Centro-Africana. Essa missão, conhecida como MINURCAT, termina o seu mandato a 31 de Dezembro.

 

Foi uma contribuição muito apreciada pela ONU. Os nossos PSP mostraram um profissionalismo exemplar e uma capacidade de protecção a que as Nações Unidas não estavam habituadas. As equipas mantiveram, ao mesmo tempo, uma excelente relação com as autoridades chadianas. Impuseram respeito.

 

Portugal saiu pela porta grande e mostrou que tem condições para colaborar efectivamente em missões de paz da ONU. Além do GOE, houve vários oficiais e chefes da PSP que também estiveram no Chade, na mesma missão. O seu desempenho foi, igualmente, muito apreciado.

 

A participação neste tipo de missões multinacionais tem ainda a vantagem de abrir as vistas e a experiência de quem nelas participa. O fundamental é criar condições, na PSP, para que essas mais-valias possam ser partilhadas com os outros.

 

A igreja grande

 

Copyright V.Ângelo

 

Neste Domingo de Páscoa convido o leitor a visitar a Igreja Matriz de Birao, capital da região de Vakaga, na República Centro-Africana, bem perto da fronteira com o Sudão.

 

Com o tempo, a igreja, que como deve ser, está situada na zona central de Birao, perdeu os fiéis. Hoje é um edifício sem vida, numa terra que é cada vez mais islâmica. O Islão conseguiu penetrar ao nível popular, ganhar raízes locais, sobreviver às crises políticas e aos conflitos armados. A região está, hoje mais do que nunca, virada para o Sudão muçulmano. Bangui, a capital da RCA, fica longe, o cristianismo é uma religião de brancos e de gentes das cidades, um mundo distante, estranho, nestas terras bem estranhas.

 

 

Os fumos cinzentos de Bangui

 

Ao chegarmos a Bangui, não havia visibilidade. As queimadas nos arredores da cidade enchiam o horizonte de fumo. Não deixavam fazer a aproximação ao aeroporto. Andámos cerca de vinte cinco minutos às voltas. A paisagem é linda, mesmo tendo em conta que a floresta equatorial já está muito desbastada.

 

Tínhamos que encontrar uma abertura. Era importante ter as reuniões que haviam sido programadas para o dia.

 

Os pilotos sabiam que esta era uma missão decidida à última hora, necessária devido à gravidade da situação junto da fronteira. Acabaram por conseguir pôr as rodas na pista.

 

Começámos com a representante de Guterres em Bangui. Uma senhora senegalesa muito decidida. Tinha estado em contacto com Genebra e preparado a nossa visita com o ministro centro-africano que se ocupa da matéria. Vamos mudar o campo de sítio, transpor os mais de três mil refugiados ainda mais para o interior do país? Não significa isso ceder à chantagem de um grupo armado influente? Enfim, uma discussão a sério sobre questões muito sérias.

 

Depois, foi a vez das ONGs que têm sido mais atacadas na região. Uma delas tem dois dos seus funcionários raptados há mais de um mês. Assuntos relacionados com sequestros são muito delicados. Mas concluímos que há esperança.

 

Fomos para o Ministério da Defesa. O ministro é filho do Presidente. Como de costume, recebeu-nos bem, mas com uma conversa muito vaga. Fora do assunto principal. Um longo discurso, sobre um tema que não estava em cima da mesa. Penso que queria reservar o diálogo para a discussão que iríamos ter, de seguida, com o seu pai.

 

A Presidência cheirava a férias de Natal. Não havia a azáfama habitual. Os conselheiros, gente de idade muito acima do respeitável, não andavam pelos corredores, como é habitual. Tivemos uma reunião muito pormenorizada. O Presidente Bozizé quis percorrer cada assunto com tempo. Uma digressão. O essencial é que as mensagens que tinha pensado transmitir-lhe foram dadas, repetidas, e sublinhadas. Houve tempo e ambiente para se ser claro.

 

Nestas coisas, cada um tem as suas responsabilidades. Cada um responde pelas suas. Fiz a minha parte.

 

Antes de voltarmos para o aeroporto ainda houve tempo para ver o técnico que se ocupa do programa de desmobilização dos combatentes irregulares. Rebeldes, diria o leitor. Um velho coronel francês, que já viu muitas. Veremos se consegue ver esta, que é bem complicada. Há homens armados por todos os cantos desta casa grande, fumarenta e de pouca visibilidade.

 

O voo de regresso a N'Djaména foi um martírio. O céu estava limpo, mas correntes de ar quente abanavam o nosso Learjet. Parecia que estávamos na turbulência da política portuguesa.

 

Claro que depois disso, só se pode estar cansado e com uma dor de cabeça.

Paz de Natal

 

O pobre do camelo não teria cornos mas a sua carne era rija como os ditos.

 

E muito mal temperada. Não dava para disfarçar.

 

Uma ceia de Natal diferente.

 

Com a situação na área das nossas operações, na RCA, a ficar cada vez mais violenta, incluindo o risco acrescido de raptos de Ocidentais, o desejo desta quadra é que haja tranquilidade e respeito. Duas características pouco frequentes, nas terras que frequento.

 

E ainda há quem diga que o pessoal dirigente da ONU são uns meros burocratas...

 

Fora isso, e esquecendo a comida, um bom Natal.

 

 

Sam Ouandja, uma cidade ecológica

 

Hoje, Sam Ouandja teve um novo tipo de visitas. Ontem, foi a minha vez. Ainda tenho que escrever sobre essa missão. Agora, foi um grupo rebelde rival, que resolveu, esta manhã, atacar os combatentes do UFDR. Cada grupo representa uma etnia vizinha, inimiga nas horas más, detestável, nos tempos mais serenos.

 

Foi uma confusão de morteiros, rajadas de kalash, gritos, a população civil a fugir para o mato, os meus soldados a tomar posição à volta do campo de refugiados.

 

No final dos combates, os assaltantes retiraram-se, levando consigo as duas únicas viaturas que existiam na cidade e que pertenciam às ONG Triangle e IMC ( International Medical Corps). Os ecologistas diriam que temos agora uma localidade sem carros. É verdade. Mas não sei se este facto entra nos planos da Conferência de Copenhaga.

 

Acabei por ter que proceder a uma evacuação do pessoal humanitário. Mandei dois helicópteros. Mas a lista de passageiros a evacuar e o grupo que nos esperava na pista não coincidia. Alguns humanitários tinham feito umas "amizades" locais e queriam levar as moçoilas amigas...Os pilotos, Russos que são, não tinham instruções para tanto. E, por isso, estavam prestes a levantar voo, de regresso à base, sem trazer ninguém...O meu conselheiro político principal, homem velho e sabido, que compreende bem a natureza humana e a força da vida, encontrou finalmente uma solução...

 

Só que com a demora, os helicópteros já não tiveram tempo de ir buscar um outro grupo de gente a evacuar, a cerca de cem quilómetros a Norte de Sam Ouandja.

 

É uma tarefa para amanhã. São quatro, sem contar com as companhias possíveis...A vida no mato não é só feita de espinhos...

Cada ser humano é um diamante

 

Estou cansado.  Viajei cerca de dois mil quilómetros, num dia que começou muito cedo, era ainda noite cerrada, para ir negociar com homens armados, gente muito violenta. São cem, neste sítio, têm estado a ameaçar de morte e destruição uma quinhentas famílias de refugiados provenientes do Darfur. Ameaçam igualmente muitos dos civis que vivem na zona.

 

As negociações tiveram lugar em Sam Ouandja, na República Centro-Africana. Tenham a paciência de procurar no Google.

 

Voltarei ao assunto. Que é muito grave. Está em causa a vida de muita gente, em terras isoladas, é verdade, são três a quatro dias de viagem com o todo-o-terreno, desde a capital do distrito, 120 marcos a Oeste, oito dias às cavalitas de um burro, a partir da fronteira com o Darfur. Os diamantes e o ouro, que são explorados artesanalmente na região, explicam muita coisa.

Viagens e conflitos

 

A visita de Luís Amado ao Chade, prevista para amanhã e Segunda-feira, incluía uma volta por um campo de refugiados, o maior e numa zona perto da fronteira com El Geneina, um importante centro urbano, no Sudão.

 

Por razões de última hora, completamente justificadas, o Ministro não pode fazer a viagem. Terá que ser em Janeiro.

 

Entretanto, está em preparação a minha viagem a Sam Ouandja, uma localidade 200 quilómetros ao Sul de Birao. É a ponta Sul da área de intervenção das tropas da MINURCAT. Uma região de refugiados sudaneses e de homens armados, pertencentes ao grupo rebelde centro-africano conhecido como UFDR. As duas partes estão em conflito. Com violência e com casos de morte. É uma terra com diamantes e caça grossa. São dois recursos naturais que levam a grandes disputas. Não há segredo. Trata-se de ver quem controla as riquezas. Lá como por cá. 

 

 

Violências

 

A ameaça de represálias contra os refugiados do campo de Sam Ouandja continou a ocupar as atenções de todos: governo, Nações Unidas, agências humanitárias. Os rebeldes exigem que o campo seja mudado para uma outra região da República Centro-Africana. Dizem que vão bloquear os acessos ao campo, impedir a passagem dos camiões do Programa Mundial de Alimentos. Na verdade, não querem estes refugiados nas suas terras, por razões tribais. É o problema das identidades e das diferenças. Quando há instabilidade, gente diferente faz medo.

 

Tive que enviar 18 militares para a zona. Amanhã irão mais. São tropas de elite, mas não tenho muitas, que o Conselho de Segurança só me autorizou um pequeno número de soldados nesta região, vasta e abundante em problemas. Um dia terei que contar as razões desta decisão do Conselho.

 

Tornei público um comunicado, para lembrar que todas as acções de violência contra os refugiados e os agentes das ONGs e da ONU caiem no âmbito da lei humanitária internacional e das violações dos direitos do homem.

 

Veremos.

 

Entretanto, mal tive tempo de ver a tragédia em que a Grécia se encontra. Os jornais falam já dos países da zona euro que estão com problemas fiscais semelhantes. Portugal aparece na lista. Estes factos vão ter um impacto sobre o euro. Mostram, por outro lado, que a disciplina macroeconómica da área do euro está de pantanas. Quando esta disciplina falha, o que se pode seguir é ainda pior.

 

Vi, no entanto, o drama pessoal que Berlusconi está a viver. As imagens foram repetidas por toda a parte. Uma vez mais, convém reafirmar que nada justifica a violência contra as pessoas. Nem em Sam Ouandja, no meio das florestas mais fechadas, na fronteira com o Darfur, num mundo que continua embrutecido, nem em Milão, às portas da moda e das catedrais que nos esmagam.

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