Apoio sem reservas a decisão que o futebolista Moussa Marega tomou. Não pode haver qualquer tipo de tibieza na resposta a comportamentos racistas. Também não podemos continuar a viver a fantasia de que por estas terras não há racismo. Também temos a nossa dose de atitudes racistas e xenofóbicas. Vários conhecidos meus, com raízes noutras partes do mundo, já passaram por maus momentos, no quotidiano da sua vivência entre nós.
A educação cívica é o melhor remédio contra o racismo. Infelizmente, essa é uma área onde há pouco investimento. Por isso, um abanão psicológico como o que ficámos a dever a Marega é muito útil.
Uma das falácias mais repetidas em Portugal é a de dizer que o país é um dos mais seguros do mundo. Quando comparo as notícias quotidianas de Portugal com as de outros países europeus, não é essa a impressão que me fica. Mais ainda. Estou convencido que estamos a assistir a uma deterioração da segurança interna.
A falácia serve, no entanto, vários objectivos. Mostra a eficácia do governo e da manutenção da ordem pública. Retira urgência à questão do reforço e da reorganização das forças de segurança. Justifica que não se atribuam mais recursos ao sistema de justiça. Projecta uma imagem de paz e de tranquilidade, que depois é vendida no exterior, de modo a atrair turistas e investimentos.
Uma boa parte da nossa política é uma farsa triste. E uma das habilidades dos farsantes é a de nos fazer acreditar em trapaças e falácias. Uma delas é que eles andam nisto por causa do bem comum, por dedicação. Quantos portugueses haverá que acreditem nisso?
Quando falo da nossa farsa triste, não pensem que fico resignado. A política praticada dessa maneira é inaceitável e cada um deve procurar ajudar a mudar a coisa. Poderíamos ter um país formidável, se a classe política sentisse que há pressão, a vários níveis, para que as coisas funcionem melhor e com mais visão.
Haverá, também que desmascarar algumas falácias, que eles conseguiram meter na cabeça dos cidadãos. Quais? Deixo, para já, a pergunta.
A incompetência que existe na classe política portuguesa preocupa-me. Fico ainda mais inquieto quando vejo que a essa incompetência se junta uma dose muito forte de mesquinhez e uma outra de proveito pessoal, de falta de sentido e de respeito pelo bem comum e o serviço público.
A radicalização de posições faz mal à política. Um país, Portugal, por exemplo, tem sempre um tecido social diverso, por muito forte que seja a identidade nacional. Aliás, o próprio conceito de identidade nacional, em vários dos Estados da Europa Ocidental, é cada vez mais difícil de definir. Voltarei a essa reflexão um destes dias. Agora, concentro-me na diversidade de interesses e de opiniões que existe em cada sociedade. E que deve ser respeitada.
O papel dos actores políticos só pode ser o de tentar encontrar áreas de entendimento entre os diferentes segmentos da sociedade. Nenhum país medra se passa o tempo em guerra civil consigo próprio. Apostar na divisão e no ataque sistemático contra os que pensam de outra maneira é má política, é coisa do passado. Liderar é saber construir consensos, erguer as bandeiras que contam para a maioria e ter a coragem de propor plataformas abrangentes. Liderar é unir e garantir o progresso colectivo.
Este blog não se cansará de repetir a mensagem da convergência. Como também não deixará de criticar os radicais que andam nas praças públicas e que se acham senhores da verdade. Infelizmente, temos uma boa colecção deles. E vemos, com preocupação, que fazem mais ruído e captam mais atenção do que lhes seria devido. Mas não há razões para hesitar nem para que nos deixemos atemorizar.
Um radical é um simples de espírito, uma pessoa de uma ideia só. Não creio que seja difícil demonstrar que essa simplificação do argumento não é resposta que se possa aceitar.
Uma parte dos meus amigos em Portugal está com gripe. Alguns, com broncopneumonia. Sem contar, claro, com os que tremem de frio. Aqui, nestas terras mais gélidas do Norte da Europa, não tenho, nas minhas relações, quem esteja em situações similares.
Só posso desejar boa e rápida recuperação aos que dela precisam, nas terras lusas.
Certos valores pedidos pelas casas e outras propriedades em Portugal são absolutamente incompreensíveis. Comparativamente, é muito mais caro comprar uma habitação de qualidade no nosso país do que em Bruxelas, por exemplo. Mais ainda, o conforto dos bens que o mercado oferece em Bruxelas, ou noutras regiões da Bélgica, é incomparavelmente maior ao que existe disponível em Portugal. O mesmo se passa se a comparação for feita com o mercado alemão ou com o que aparece à venda em grande parte dos departamentos franceses.
Estranho país. Será que haverá por aí muito dinheiro que precisa de ser reciclado? O sector imobiliário sempre lava mais branco.
Uma das conclusões que retirei da minha última viagem à Índia é que não serve para grande coisa ser-se uma vaca sagrada. As pessoas passam ao lado, continuam preocupadas a tratar da sua vida e o bicho anda por ali a vaguear, intocável mas sem qualquer tipo de influência. Dir-se-ia, em muitos casos, que se tornaram invisíveis, apagadas pela azáfama do quotidiano.
Lembrei-me disto ao ver as nossas pretensas “vacas sagradas”, sobretudo as políticas, a serem ignoradas da mesma maneira. Os cidadãos, tal como na Índia, pouco ou nada lhes ligam. Elas continuam a aparecer nos lugares públicos, mas a veneração que o “sagrado” lhe dera noutros tempos parece ter desaparecido. O que conta, agora, é lutar pelo dia a dia e evitar as burocracias que têm muito pouco de espiritual.
A mensagem de Ano Novo do Presidente da República vale a pena ser ouvida. Breve, vai directamente às grandes preocupações que Marcelo Rebelo de Sousa vê perfilarem-se em 2020. A saúde, a segurança, a coesão e a inclusão sociais, a ênfase numa sociedade baseada no conhecimento e,ainda, a questão do investimento.
Por detrás das palavras, o Presidente diz-nos que o Sistema Nacional de Saúde está com muitas dificuldades e que a segurança das pessoas não é tão boa como certos arautos do poder nos querem fazer acreditar – e eu, que sei um pouco de segurança, continuo a pensar que o país tem um grau de insegurança que merece mais atenção. Também nos lembra que as desigualdades sociais e a pobreza são uma realidade nacional, que a economia precisa de mais competências e de mais, bem mais, investimentos, públicos e privados.
Estas prioridade não nos podem fazer esquecer outras. Mas já seria óptimo se, neste ano que agora começa, se começasse a dar-lhes mais atenção.
Parece-me difícil de aceitar que um político que não fez mais nada na vida do que bajular os dirigentes do seu partido, colocando-se sempre do lado de quem estava a ganhar, venha agora criticar abertamente a falta de capacidade dos empresários portugueses.
Se há falta de capacidade e de espírito de inovação é na classe política que isso acontece. A grande maioria dos que estão no governo – para não falar de governos anteriores – são gente da máquina partidária, que não tem qualquer experiência da vida fora do casulo que protege os fiéis e os lambe-botas.