Hoje, no noticiário das 21:00 da CNN P, fiz referência à posição do Presidente Lula da Silva perante o conflito criado por Vladimir Putin. Lula tem sido, desde o início, ambíguo. Não quer falar da violação da lei internacional, cometida pelo seu amigo Putin. Fala de paz, o que é uma boa ideia, mas não acrescenta que só deixará de haver guerra quando o presidente russo perceber que tudo depende dele.
O Presidente Lula também acha que não deve apoiar a Ucrânia na defesa da sua integridade. Tem munições que fazem falta aos ucranianos. Mas quando lhe levantam a questão, põe a Ucrânia no mesmo pé que a Rússia e não faz a distinção que deve ser feita entre o agressor e o agredido.
Foi pena que o jornalista responsável pelo telejornal não dispusesse de tempo para levantar uma ou duas questões sobre este assunto que eu trouxera para cima da mesa. E que interessa aos portugueses, estou certo.
Ontem, na CNN, repeti que a apreciação pelo reinado e pela pessoa que foi Isabel II não faz de nós menos republicanos. Aliás, nem isso está em causa. Não se trata de defender ou atacar o regime monárquico que um outro país tenha em vigor. A questão monárquica não existe em Portugal. Não vale a pena falar e argumentar sobre um tema que não faz parte do debate político nacional. Nem entrar em explicações sobre princípios que uma monarquia não respeitaria, como o da igualdade ou do mérito. Até porque essas dimensões da igualdade e do mérito são certamente mais evidentes em países como o Reino Unido, a Bélgica ou a Dinamarca do que neste nosso canto da Europa, onde, aqui entre nós, a maior parte dos que hoje detêm algum tipo de poder são descendentes de pais e avós que já eram diplomados universitários numa altura em que quase ninguém o era. Bem vistas as coisas, o mérito e a progressão social são mais fáceis nas terras da defunta Rainha do que por aqui. Não se tem falado ou escrito muito sobre a perpetuação das nossas classes sociais, mas ela existe. É aí que deveria estar centrado o debate, e não sobre a forma monárquica de poder que não interessa a ninguém, com excepção de meia dúzia de excêntricos.
Um dos comentadores putinistas a quem é dada habitualmente voz na CNN Portugal – um Major-General na reserva, que aprendeu geoestratégia na GNR e que na sua condição de militar não deveria fazer comentários políticos, mas no regabofe que são as nossas chefias militares e perante a incompetência habitual do Ministério da Defesa, ele fala e contraria a posição oficial, com toda a impunidade – disse hoje que os crimes de guerra de Izium fazem apenas parte da propaganda de guerra dos Ucranianos.
Por razões técnicas de ligação, o meu comentário deste fim de tarde na CNN Portugal ficou por fazer. Teria falado das imagens chocantes que foram filmadas em Bucha, localidade cerca de Kyiv. Tudo parece indicar que centenas de civis foram vítimas de crimes de guerra, perpetrados por militares russos, antes da sua retirada. Trata-se de matéria muito grave.
Infelizmente, o comentador que apareceu no programa – um docente do ISCSP da Universidade de Lisboa e antigo funcionário superior do SIED – foi no mínimo ambíguo e superficial em relação à evidência dos crimes cometidos. Tentou ligar o odioso a acções de propaganda. Estas ambiguidades só servem para disfarçar a admiração que estes tipos de pessoas têm por Putin. Como não houve discussão, perdeu-se a oportunidade de pôr os pontos nos is.
Mas ficaram-me duas questões: primeiro, qual a qualidade das aulas que esta gente dá nas universidades onde leccionam? Segundo, será o SIED – o chamado serviço de informações relacionadas com o estrangeiro – um viveiro de pró-putinistas? É que este professor é mais um caso ligado ao SIED. Provavelmente a resposta é negativa, que não se trata de um viveiro. Mas os serviços secretos de países aliados também poderão ter este tipo de interrogações.
Voltando à minha intervenção falhada, teria igualmente falado do que se tem seguido à cimeira de sexta-feira entre a União Europeia e a China. Um pós-cimeira muito interessante, sobre o qual vale a pena reflectir. Há muito em jogo, de um lado e do outro.