Foi um tempo complicado. Há anos assim. Apesar de tudo, termino a coisa com calma, lendo umas notas sobre o taoísmo. Que se podem resumir muito simplesmente em três pequenas frases: continuar a viver os dias que passam; manter uma conexão positiva com as pessoas que contam; procurar sorrir perante o que a vida nos vai trazendo.
Jean-Paul Sartre, o filósofo de há tempos passados, era um pessimista. Achava que o inferno eram os outros.
Lembrei-me dele quando estive no Butão. Neste reino dos Himalaias, os outros são a salvação. O budista butanês, ao entrar no templo, dedica a primeira recitação ao bem-estar dos outros. Reconhece, assim, que a sua tranquilidade depende da felicidade dos outros. Mas nunca dirá que os outros são a causa da sua agitação. Aprendeu, desde pequeno, a olhar a vida pelo lado positivo.
Visitei o Centro de Acção Laica (CAL, secção francófona). Está instalado na ULB (Universidade Livre de Bruxelas), num edifício de três pisos, numas instalações modernas, bem desenhadas e amplas.
As actividades do CAL abarcam a capital e toda a Valónia. É financiado pelo estado federal belga, ao mesmo título que as confissões religiosas reconhecidas o são, e tem como função defender a liberdade de pensamento e as posições filosóficas da população não crente do país. Com uma vasta actividade editorial, um empenho muito grande na educação laica nas escolas públicas e uma participação muito activa no diálogo entre religiões e outras filosofias de vida, emprega mais de 160 pessoas, na sua sede nacional. Destacou-se, nos últimos anos, em virtude da sua campanha pelo reconhecimento do direito à eutanásia. Está, além disso, comprometido em fazer compreender aos líderes religiosos muçulmanos que ser ateu é uma opção respeitável. O conceito de ateu é algo de incompreensível para a quase totalidade dos crentes islâmicos.
José Saramago deixou-nos hoje. Sentimo-nos mais pobres. Foi um português que não teve medo de abrir novas frentes, ao desafiar constantemente a nossa maneira tradicional de pensar. Com ele, com as suas frases intermináveis e as suas alegorias, muitos de nós aprenderam a pensar sem barreiras. A deixar voar o olhar crítico sobre nós próprios. A saber que todas as interrogações são legítimas.
Gente assim cabe dificilmente no Portugal que temos. Por isso, foi viver para a porta ao lado. É melhor para os nervos. E envia um sinal que poucos entendem, mas que deveria voltar à baila, neste momento da sua viagem definitiva para o espaço das memórias. A mensagem que continuamos a fechar os nossos horizontes, a viver agarrados à sotaina das ideias de outrora, num círculo de vistas estreitas, que acaba por excluir as mentes livres e criadoras.
Se o leitor tivesse que escolher um tema, entre os três que se seguem, qual seria a escolha? Qual é, neste momento, o mais actual e de maior urgência?
É verdade que os temas não têm muito que ver com a crise económica e financeira, que domina todas as atenções. Mas estão muito relacionadas com grandes problemáticas sociais, os direitos humanos, a justiça social, a aceitação do Outro, o respeito pela diferença, quer na Europa, quer nas relações entre o nosso espaço e o resto do mundo. São, além disso, muito prementes, em vários cantos da Terra.
Os temas são:
1. Liberdades, responsabilidades, direitos e ética.
2. Liberdade de expressão, de consciência e de religião.
3. O princípio da igualdade entre os homens e as mulheres.
Sábado de Páscoa é um dia de transição, na cultura que nos rodeia. De um lado, uma Sexta-feira em que a esperança é crucificada. Do outro, um Domingo que nos desperta uma nova luz, nos abre horizontes, nos faz acreditar na vida.
É preciso saber esperar. Ter coragem. Ultrapassar os momentos difíceis. Acreditar no futuro.
Com o tempo, o Sapo convenceu-se que era o rei da poça de água. Outros animais passavam, diariamente, pelo local, para matar a sede. Pouco tempo ficavam, que, na selva, os sítios onde existe o precioso líquido são sempre muito perigosos. Todo o tipo de emboscadas acontecem junto aos pontos de água. Apenas o Sapo vivia na falsa tranquilidade de um sítio que, a qualquer estranho menos experiente, pareceria tão ameno.
Um Elefante começou a frequentar o charco com regularidade. Banhava-se demoradamente, deliciava-se na lama, sentia-se bem na frescura da paisagem. Era um Elefante muito ruidoso, de grandes espalhafatos. Muitos dos frequentadores do atoleiro desistiram da frequentação. O bulício provocado pelo gigante tornava o local ainda mais arriscado, pois deixava de ser possível ouvir os ruídos mais subtis dos que vivem da perdição dos outros.
O Sapo passou a ver o Elefante como o seu inimigo principal. Não gostava da concorrência. Caiu-lhe mal que o seu pequeno paraíso tivesse sido abandonado pelos outros animais. Ele que era o chefe do pântano! Estava a perder os súbditos.
Cada vez que se via reflectido na água vinha-lhe á cabeça comparar-se com o Elefante. Á força de se mirar, começou a convencer-se que era, pelo menos de peito, tão corpulento como o mastodonte. Mas como era de natureza medrosa, não se atrevia a medir-se com a besta.
Nas redondezas vivia uma boa de formato grande. Tinha o hábito de caçar antílopes. Mas estes eram cada mais raros, nas margens do charco. O Sapo pensou, e bem, que a jibóia poderia ser um aliado de peso, na cruzada para correr com o Elefante. Uma serpente com razões de queixa é uma ameaça de grande efeito.
E o Elefante acabou por ir à procura de outras paragens. O Sapo viveu uns momentos de grandeza, senhor que era de novo deste éden de lama e águas turvas. A boa esperou que as impalas voltassem. Mas esperar é exercício de paciência e a paciência nem sempre mata a fome. Nem o Sapo a matou. Que engolir um Sapo é obra pequena, quando se vive ao lado de uma jibóia de corpo inteiro.
A minha escrita tem uma linha mestra muito clara: deixar espaço a quem me lê. Não há que dizer tudo. Quem escreve, penso, convida o leitor a sonhar. A imaginar. A reflectir. A abrir os olhos. Para que as vistas sejam sempre o mais amplas possível.
À porta de casa, a minha tenda em Birao, capital da Vakaga, uma residência de luxo, com internet e tudo, a badalar o sino de um ano que será um tempo de grandes mudanças. Há que ter a coragem de enfrentar novos desafios, abrir outros horizontes, começar uma vida diferente. Não é apenas renovação. 2010 é um ano novo.
Um bom Ano de 2010 para todos os que seguem o meu blog.