Esta semana, Vladimir Putin pareceu mostrar alguma confusão estratégica. Um dia disse uma coisa, no seguinte afirmou o contrário. Tudo à volta do uso de armas nucleares e de alta tecnologia. Parece confusão, mas não é. É um jogo para desnortear o inimigo.
Ele está a trazer o tema para cima da mesa, com a clara intenção de fazer uso desse tipo de armamento, se se achar ameaçado. Uma utilização preventiva, acabou por dizê-lo. Mas a noção de agir antes dos outros, por parecer que há uma ameaça que está prestes a ser concretizada, é altamente perigosa. Por isso continuo a dizer que estamos agora num momento particularmente arriscado do conflito.
A leitura que faço das suas palavras e das imagens públicas que vão aparecendo, retratando-o aqui e acolá, confiante e bem-disposto, fazem-me temer que Putin esteja convencido que chegou o momento de alargar o conflito. E que tenha feito a avaliação que poderá sair desta confrontação vitorioso. Ora, um conflito desse tipo, com armas nucleares e ultra-sónicas, não acaba com vitórias. Acaba, isso sim, com um grau impensável de destruição.
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias.
Alguns leitores pensam que exagero quando escrevo sobre os riscos de um conflito de grandes proporções. Infelizmente, não o creio. E gente bem informada, como o Secretário-geral da NATO, também acha que podemos estar à beira de um conflito global. Putin não hesitará, se chegar à conclusão que está em riscos de perder.
Como de costume, cito umas linhas do meu texto.
"Frente a Vladimir Putin, Emmanuel Macron tem de deixar de parecer o ingénuo da fita. Deve mostrar que está preocupado com a escalada contínua da agressão russa e dizer claramente que a história nos ensina que as escaladas levam sempre à erupção de conflitos de grandes proporções. Esse é o grande perigo agora iminente e é esta a mensagem que deve ser repetida, seja por que via for."
O meu amigo ainda não percebeu que estamos em guerra com a Rússia. É verdade que não é uma guerra como antigamente, mas é um conflito a sério, em que tem de haver vencedores e vencidos. A agressão já foi longe demais. Exige compensações, responsabilidades e um outro tipo de relacionamento de vizinhança. Tudo isso pode ser negociado e quanto mais depressa melhor. Mas é necessário reconhecer as culpas e tratar das indemnizações. A agressão foi iniciada sem qualquer tipo de razão válida. Os argumentos sobre a NATO e outras possíveis ameaças não têm justificação. Um país membro permanente do Conselho de Segurança da ONU sabe quais são os seus deveres e quais são os limites aceitáveis. O resto é conversa para distrair a comunidade internacional.
O Parlamento Europeu declarou hoje, por uma larga maioria, que a Rússia é um Estado promotor de acções terroristas. As razões que levaram a uma decisão desse tipo são mais que evidentes. Basta pensar nos bombardeamentos diários contra instalações civis. E no terror que a guerra e a ocupação têm provocado.
Nestas circunstâncias é fundamental, um dia, trazer perante um tribunal especial Vladimir Putin. Ele é o criminoso-chefe. Não podemos pensar num fim da guerra sem o julgamento desse indivíduo.
A Europa Ocidental é, para além da Ucrânia, uma das vítimas desse terrorismo de Estado. Os cidadãos europeus que defendem Putin devem ser considerados colaboracionistas e traidores. Também deveriam ser julgados, caso a crise se agravasse seriamente.
Apesar do que se diz por aí, fruto da invenção de alguns comentadores pouco sérios, não foi entregue à Rússia nenhuma proposta de rendição nem à Ucrânia um ultimato. Ambas as partes sabem quais são as condições que levariam o outro lado para uma mesa de negociações. Não precisam de intermediários, neste momento, nem listas de condições.
Por outro lado, é claro que certos países ocidentais gostariam de ver a situação resolvida prontamente. Estão com dificuldades em apoiar materialmente a Ucrânia. E sabem que os custos inflacionistas irão continuar e têm sérias implicações políticas. A eles, convém lembrar-lhes os custos que uma vitória russa teria.
O inverno é o período mais difícil de passar, quando se trata de uma guerra nas regiões muito frias da Europa. Mas não há maneira de suprimir essa estação do ano. Há, isso sim, que minimizar os custos em termos do conforto e da saúde das pessoas. Mas não há guerras sem sacrifícios.
Deixo acima o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. E cito umas linhas de seguida.
"Qual poderá então ser a evolução provável do conflito? E que devem fazer os aliados da Ucrânia? Pergunto assim porque não subscrevo a teoria delirante desta ser uma guerra entre a Rússia e os EUA, utilizando a Ucrânia como pretexto. Esta é uma invasão decidida por Vladimir Putin. Tem como vítimas o povo, a cultura e as aspirações democráticas ucranianas. Apregoar que é um confronto entre a NATO e o povo russo é fazer o jogo de Putin e da sua clique corrupta de oligarcas e de criminosos de guerra."
António Guterres afirmou hoje, com toda a clareza e muita coragem, que a anexação dos territórios ucranianos pela Rússia de Putin é ilegal e deve ser condenada. Cria igualmente um nível de perigo bem mais elevado para a paz internacional.
Partilho inteiramente a sua posição. Esta nova situação pode levar a um novo patamar de violência e ao alastramento da guerra. Putin é um criminoso sem limites e não hesitará, se achar que é preciso passar a um conflito generalizado, com armas de destruição maciça.
Amanhã estaremos mais próximo de uma guerra entre a Rússia de Putin e uma parte do Ocidente. Se continuarmos assim, estaremos a caminhar para uma confrontação muito séria. Infelizmente, parece-me que assim continuaremos.
Este é link para o meu texto de hoje, o texto da rentrée, no Diário de Notícias.
E este é o último parágrafo desse meu escrito: "É altura de se ser franco e direto. A agressão coloca-nos perante três opções e pede-nos uma decisão firme e clara. Uma solução inspirada na técnica do banho-maria não resulta. Na realidade, com o tempo, acaba por encorajar o infrator e outros com intentos semelhantes. Aqui, ou se acende o lume ao máximo - na convicção de que no final se estará do lado dos vencedores e dos sobreviventes - ou se procura uma receita alternativa, uma via política. É essa a escolha determinante que os nossos líderes têm de fazer."
Quanto custa ao tesouro russo a agressão contra a Ucrânia? Essa é uma pergunta que deve ser feita, mesmo se a resposta não for totalmente clara. Uma fortuna, é a resposta mais acertada e falando apenas em termos financeiros.
Não creio poder dizer que exista uma estimativa fiável. Mas diria que os quatro mísseis que a Rússia lançou ontem contra o porto de Odessa custaram à volta de 6 milhões de dólares, ou seja, 1,5 milhões cada. Esse custo não inclui o valor da logística necessária para os lançar.
São apesar de tudo mais baratos que os Iskanders, o tipo de míssil mais frequentemente utilizado pelos russos. Esses custam à volta de 10 milhões de dólares por unidade. No total, estamos a falar de várias centenas de milhões de dólares por dia, gastos para agredir a Ucrânia.
“Renovo o meu apelo aos responsáveis das nações: não levem a Humanidade à ruína, por favor”. Estas palavras foram ditas e repetidas hoje pelo Papa Francisco. Devem fazer pensar, pois o Papa não fala de “ruína” de modo ligeiro. Ele conhece o valor das palavras, sobretudo numa situação de crise profunda como a actual. E se diz “ruína”, é porque acredita que existe esse risco.