Link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Escrevo sobre a União Europeia que olha para a sociedade digital como um consumidor e não como um actor estratégico.
Deixo-vos acima o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. E agradeço a todos os que reencaminharam este texto para outros leitores, que convidaram outros a adquirir o DN e que me enviaram comentários. Não tive ainda a oportunidade de responder a esses comentários.
Há um parágrafo que nos toca directamente. Cito, de seguida.
"Menos falado, mas igualmente importante para a vitalidade da democracia, é ter-se um sistema de administração de justiça capaz e independente dos políticos. Os cidadãos precisam de ter confiança no funcionamento célere e eficiente dos tribunais, como meios de defesa dos seus direitos e de correção das injustiças. Na era do “totalitarismo digital” isso é ainda mais essencial. Nos Estados-membros onde a justiça é lenta, mal apetrechada e ineficiente, temos um problema quase tão grave como o autoritarismo que existe noutros horizontes. Esses Estados têm uma democracia coxa. Deveriam igualmente ser tema de crítica no Conselho Europeu. Sem justiça eficaz, a democracia é uma ilusão. E os cidadãos, como o mostraram agora os franceses, já não se deixam iludir tão facilmente."
A opinião que publico no Diário de Notícias deste sábado trata da nova estratégia da União Europeia sobre segurança. Esta é uma questão central, uma função essencial de cada Estado. Mas pouco debatida. Fala-se e discute-se muito o tema da defesa e pouco o da segurança interna. Ora, para o cidadão comum, a segurança é uma preocupação quotidiana, ou pelo menos, frequente. Há, pois, que trazer o assunto para a praça pública. Sobretudo se se tiver em conta que as novas capacidades informáticas podem ser utilizadas para criar um sistema de controlo total dos cidadãos e para manipular os riscos de segurança para fins políticos.
A nova estratégia, que diz respeito aos próximos cinco anos, mostra que caminhamos rapidamente para um sociedade de vigilância apertada. A minha mensagem é que não podemos deixar as questões de segurança sem uma supervisão eficiente por entidades de reconhecida credibilidade e que sejam autónomas em relação às lutas partidárias. Esta função de controlo democrático e independente das forças de segurança e de inteligência é fundamental para garantir os direitos e as liberdades que definem o espaço europeu. A estratégia ignora essa dimensão. Vê-se que foi escrita por polícias e revista por políticos que não sabem do que estão a tratar. Isso deixa-me preocupado.
Quando o sistema informático diz que não, ficamos impotentes. Este é o mundo de agora. A Inteligência Artificial tem muitas vantagens e, do outro lado da medalha, grandes inconvenientes. Pode ser uma barreira. Quase intransponível. No meu caso, o sistema dizia que eu anulara todos os serviços de telecomunicações excepto um. Ficara registada como uma decisão final, não como um erro de entrada de dados do operador. Enquanto decisão definitiva, a IA do sistema não permitia voltar atrás. Para ter de novo o serviço a funcionar em minha casa, era preciso proceder a um novo contracto, respondia o robot que trata destas coisas. Um novo contracto que, nestes tempos de Covid e de vigilância apertada dos utilizadores da net, só ficaria operacional quando eu já não precisasse dele. Foram precisas várias horas de reprogramação por um humano altamente competente em questões de informática para que o robot mudasse de ideias. Deu para provar o que poderá ser o mundo de amanhã, dirigido em grande parte por máquinas “inteligentes”. Que estão programadas para ultrapassar e dizer que não a decisões tomadas humanos. Faz medo ou, pelo menos, pensar.
É evidente que não estou aqui para ofender seja quem for. E ainda menos, em Agosto, numa altura em que os leitores têm mais que fazer do que estar a ler estas linhas. Mas ficar calado também não é opção, pelo menos no meu caso. Por isso, vou acrescentado umas linhas, mais ou menos diárias, ao muito que já aqui foi dito. E continuo a apreciar os que me lêem e divulgam o que escrevo. A internet dá-nos uma voz e é importante que a aproveitemos.
Mas dentro de alguns anos, deverão existir programas de Inteligência Artificial que escreverão estes blogs a nosso pedido. Bastará dizer qual deve ser o tema e força, o programa gerará um texto, com uma redacção que terá em conta a nossa maneira própria de pensar e será fiel à nossa linha ideológica. Isso poderá acontecer dentro de cinco anos, se tivermos presentes os investimentos que estão já a ser feitos em matéria de AI.
Desde 2012 tem havido um progresso considerável na área da AI. Se se comparar o que se consegue fazer agora com o que se fazia então, estaremos a falar da noite para o dia. E, neste momento, estão em curso quatro ou cinco pesquisas de grande vulto que irão acelerar a capacidade da AI. Os super-computadores já estão na calha. Serão tão completos em termos de informação e tão rápidos, que nos irão colocar num canto, apenas a dar ordens e a ser surpreendidos pelos resultados.
A década em curso tem sido rica em acontecimentos com implicações políticas profundas. Tenho andado a tratar desses assuntos e a tentar perceber as várias dimensões do impacto que estão a ter e continuarão a exercer no futuro.
Amanhã falarei sobre isso, na Secção dos Assuntos Internacionais da Sociedade de Geografia.
Para já, deixo aqui a minha lista dos acontecimentos marcantes da década. Sei que o leitor poderá elaborar uma outra lista. Isso só enriquece o debate. Mas, de momento, fica a minha “fotografia” da década.
2011 – Crise na Líbia
2014 – Crise na Ucrânia e conflito com a Rússia
2015 – Imigração em massa para a EU
2015 – Atentados terroristas na Europa
2016 – Tentativa de golpe militar (talvez…) na Turquia
2017 – A presidência de Donald Trump
2017 – Consagração do poder absoluto de Xi Jinping e projecção na Nova Rota da Seda
2018 – Conflitos comerciais e movimentos anti-globalistas
2019 – Cidadãos pelo clima e o movimento de Greta Thunberg
2019 – Facebook anuncia o lançamento da Libra (28/06/2019) em parceria com 26 empresas e entidades
2019 – Ai-da, o robô artista, inaugura a sua primeira exposição de pintura e escultura em Oxford (Inteligência Artificial)
Tudo isto mostra uma aceleração de factos determinantes e assinala as mudanças que estão em curso.
A Plataforma de Associações da Sociedade Civil (PASC) e a Associação para a Promoção e o Desenvolvimento da Sociedade de Informação (APDSI) querem que eu e mais três especialistas - eles são os especialistas nessas coisas da Sociedade da Informação e da Inteligência Artificial - respondemos às cinco questões enumeradas mais abaixo.
Não é nada fácil. Iremos falar disso no dia 11 de Julho às 17:00 horas na Quinta do Bom Nome, em Carnide, Lisboa. Mas não sei se sairei dessa sessão - que é pública, pode lá vir quem se inscrever - com bom nome...
Mas que é uma excelente iniciativa conjunta da PASC e da APDSI, isso sim.
Dizem eles: A inteligência artificial está a alterar o equilíbrio de poder no ciber e no geo-espaço e é necessário responder a novos desafios: - Quais os pressupostos da política e da soberania dos estados, dentro e fora das fronteiras nacionais? - Será que as atuais alianças internacionais sobreviverão? - Será que irão surgir novas soberanias no ciberespaço? - Quem vai governar a Internet e mandar em todos nós? - Qual o papel da cidadania num contexto de transformação digital e nestes novos espaços de poder?
As pessoas que podemos considerar como pertencendo às elites gostam de repetir que vivemos numa época muito interessante e estimulante. Os que vivem de rendimentos dos sectores financeiros, ou estão ligados às actividades das grandes multinacionais, dizem-no ainda com mais entusiasmo. É aí que encontramos os grandes defensores da internacionalização das economias e da liberalização do comércio mundial. E da revolução digital, que traz ao seus mundos ganhos de eficiência, de flexibilidade e de tempo.
As elites são gente que sorri.
Na sua euforia, esquecem-se dos outros. De quem não tem as qualificações necessárias para acompanhar as transformações científicas e tecnológicas. Dos que ficam para trás. Dos que olham para o presente e antevêem o futuro com imensa preocupação e uma grande dose de pessimismo.
Os outros. As pessoas que perdem, ou sobrevivem, apenas. Gente que quando ouve globalização lhes soa a exclusão. Gente com dúvidas e muito medo.
Cabe aos líderes políticos responder a esses receios. Ou seja, encontrar o equilíbrio entre um mundo mais aberto, e em renovação acelerada, e a salvaguarda dos interesses e da dignidade de todos os cidadãos. Em particular os que a vida, por uma variedade de razões, foi deixando à beira do caminho do futuro.
O ponto de partida, para os políticos, deve ser simples. Dito em poucas palavras, isso significa ter claro, nas suas mentes, que a transformação tecnológica da economia, a inovação acelerada com base na Inteligência Artificial e a abertura ao mundo não podem ser feitas à custa da marginalização de camadas significativas das nossas populações europeias. O discurso político e os planos de acção, aos níveis nacional e europeu, têm que se concentrar nas questões de inclusão. Para além da educação e da formação contínua, e da informação inteligente, as políticas devem promover novas formas de estar em sociedade, de se ser socialmente respeitado. Tem que se ganhar um novo entendimento do que significa ser-se socialmente útil. Isto inclui o engenho de novas maneiras de assegurar um mínimo de rendimento mensal aos que possam ter mais dificuldade em inserirem-se no mundo novo.
Tudo isto, sem tirar a cada pessoa a responsabilidade individual, que é sua, perante o seu destino.
A ideia é clara. O futuro constrói-se à força de braços, indivíduo a indivíduo, família a família, mas não só. Precisa de um quadro político que tenha em conta as variáveis do mundo de agora. Aí, entram as lideranças políticas e os seus deveres.
A agência de noticias Reuters lançou um inquérito internacional sobre “o desafio global mais urgente” que deveria ser tratado no encontro de Davos deste ano. Participaram nesta iniciativa mais de 300 mil pessoas.
As respostas estavam condicionadas em virtude da pergunta só permitir uma escolha entre quatro grandes desafios, excluindo assim outros que considero igualmente importantes, como, por exemplo, os relacionados com a pobreza, o desemprego, a Inteligência Artificial, a gestão das megacidades ou ainda a questão dos direitos humanos, agora que vários autocratas estão no poder. Sem falar, claro, do populismo.
Os quatro desafios seleccionados pela Reuters tinham que ver com o clima, o comércio, a habitação e a desigualdade do género.
As alterações climáticas parecem ser o problema mais sério e urgente para 62% dos que responderam. O comércio internacional, que inclui os conflitos comerciais em curso, ficou em segundo lugar, mas apenas com 19% das respostas. Seguiram-se o acesso a uma habitação condigna (12%) e a questão da desigualdade entre os homens e as mulheres, com 7% das respostas.
Se fosse forçado a escolher, qual seria a resposta, de entre as quatro opções em cima da mesa?