Hoje teve lugar a cerimónia de passagem de responsabilidade de 84 crianças capturadas pelas Forças Armadas do Chade. Faziam parte das colunas rebeldes que haviam atacado o Leste do país em Maio. Tinham sido treinados como combatentes, ensinados a atacar, emboscar, matar e sobreviver em meio hostil. Eram guerrilheiros de palmo e meio.
Passaram agora para a responsabilidade das Nações Unidas.
A partir de hoje estarão num centro de trânsito e de orientação, sob a tutela na UNICEF. Vão ser aconselhados durante vários meses, educados e formados, preparados para voltar para as suas famílias. É um percurso muito longo, o de voltar à sua vida de adolescentes. Exige muita paciência. Entre parêntesis, refiro que o primeiro grupo de crianças aceites pelo centro, há mais de um ano, partiu tudo o que podia ser partido, assim que entraram nas instalações. Foi uma orgia de violência. Ontem estive com eles. Estavam atentos, em frente ao quadro, a ouvir os professores de cada disciplina. Pareciam outros miúdos.
Voltemos às crianças de hoje. Nunca haviam estado em N'Djaména. Agora, vão ficar na capital. Em breve, já jogarão à bola com as outras crianças vizinhas, moradores no mesmo bairro onde se encontra o centro. A bola vai ajudá-los, como a educação e a aprendizagem, a ganhar uma atitude mais aberta. Na verdade, a grande maioria destas crianças são de uma só tribo. Pouco mais sabem sobre o resto do Chade. Uma tribo que pensa que a única hipótese é a rebelião armada. Fortemente armada.
Estou, pela primeira vez, no Terminal 5 de Heathrow. É um terminal gigantesco, altamente moderno, virado para o futuro, num aeroporto que já era enorme sem este acrescente. É um investimento a longo prazo.
O nosso pobre debate sobre Alcochete parece tão ridículo, quando um coxo intelectual como eu se tem que arrastar no sem fim de facilidades que é o terminal 5. Talvez fosse uma boa ideia pedir aos Britânicos que organizem uma visita guiada para os nossos pobres políticos portugueses. Só para lhes permitir abrir os olhos. Depois, poderão voltar para as guerras de Alcochete e da borda-d'água, que é etiqueta preferida dos nossos amigos do clube das vistas curtas.
A leitura feita por alguns jornalistas das palavras da senhora da oposição sem jeito é claramente abusiva e inspirada pela fidelidade de certos homens dos jornais aos cavalheiros do poder. A senhora não fala de nenhum Bloco Central. Aliás, na resposta à questão levantada pelo entrevistador, a rainha dos desajeitados diz umas coisas que, lidas e relidas, não se entendem. Mas isso não seria notícia. É habitual. O que certos jornalistas inventaram, de seguida, é que se tornou notícia.
E que se trame a honestidade intelectual em Portugal.
O recém-eleito presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público reconheceu que existem pressões políticas sobre a magistratura. No Público de 28 de Março afirma que..."as pressões sobre os magistrados estão a atingir níveis incomportáveis".
Referiu-se também às recentes medidas legislativas do governo. Disse que são "constrangimentos ao funcionamento da justiça". Propositados ou por incompetência, não esclareceu. E que o novo Estatuto do Ministério Público "é restritivo da independência" dos magistrados. Ou seja, tenta instrumentalizar, para fins políticos, diria eu, esta componente fundamental do sistema de justiça.
Tudo isto é muito sério. Preocupante. De arrepiar. Inadmissível num país democrático.
Tenho a certeza que o Ministro da Justiça se sentirá na obrigação de vir à praça explicar de sua justiça. Não pode fingir que não é nada com ele. O silêncio, neste caso, será muito comprometedor.
Um malabarista do comentário político torce-se hoje no DN, para explicar que a questão da segurança tem muito que ver com a falta de investimentos em prisões, por parte dos vários governos que nos têm regido. É uma maneira de nos passear por questões que pouco têm que ver com o problema central da insegurança e com o facto de que a situação se agravou de modo muito acentuado nos últimos dois anos.
A segurança é uma tarefa fundamental da governação, nas suas múltiplas facetas de prevenção, informação, resposta, repressão e administração de justiça. Quando os indicadores de segurança entram em quebra é a competência do governo, no seu conjunto, que está em jogo. Sejamos claros.
O meu artigo de hoje na VISÃO centra-se na reunião do G20, que terá lugar na próxima semana em Londres. Também há 76 anos, em plena Depressão, Londres foi o palco de um encontro internacional, com o objectivo de encontrar soluções para a crise de então. Os Estados Unidos, que tinha acabado de eleger Franklin D. Roosevelt como Presidente, adoptaram uma atitude pouco construtiva durante a Conferência de 1933. Uma posição marcadamente nacionalista, que acabou por levar a reunião ao fracasso.
Em 2009, o nacionalismo chama-se proteccionismo. E é praticado por quase todos os participantes no encontro de agora. Embora o neguem a pés juntos. Mais ainda, vão para Londres sem terem passado por consultas prévias, por discussões de preparação. É tudo para Inglês ver, e não só. Para lançar poeira noutros olhos também.
As medidas que vierem a ser tomadas carecerão de seriedade. Para já não falar na falta de capacidade das instituições existentes par pôr em execução e levar a cabo os enormes pacotes que são prometidos todos os dias.
A senhora das democracias-sociais jantou ontem em Leiria com os empresários da região. Diga-se, de imediato, que tenho um certo grau de admiração pela capacidade empresarial do distrito. É uma zona dinâmica. Que tem que ser melhor conhecida, pois tem bons exemplos de pequenas e médias empresas que funcionam e dão emprego a muita gente.
Mas, voltando ao jantar, falou-se dos constrangimentos ao desenvolvimento do nosso país. A personagem central falou da justiça e da sua relação com o investimento, da educação e formação profissional, da burocracia e da corrupção. São bons pontos. É preciso atacar essas áreas, que de facto travam o progresso de Portugal.
Mas, para quem, como eu, anda por esse mundo fora, há também um problema de imagem do país. O que projectamos é a imagem de um país que funciona mal, complicado, desleixado, pouco preparado e sem grande qualidade de vida. Estamos, mais ainda, em risco de vermos a questão da insegurança colada igualmente à imagem da nossa sociedade.
Ora, a imagem é meio caminho andado. Faz parte do capital de um país. É como a reputação de uma pessoa ou de uma empresa. Vale milhões.
Morrer ao sair dos Correios de Oeiras, no meio do mato que são os arredores de Lisboa, baleado por gangsters rafeiros à caça de meia dúzia de Euros, quando no Freeport ninguém é atingido, nem cai de vergonha, e quando nenhum professor é avaliado, nem tido nem achado, com o Isaltino da mesma Oeiras a dizer que não se reconhece no monstro que o Procurador pintou no tribunal, não será certamente por estar mais gordo, e sem ter a certeza de que haverá um dia um novo Provedor de Justiça que o ouça, caso necessite, que o que se passa com essa tachada só mostra a falta de diálogo e bom senso políticos, mas não haja pressas, que o escândalo do BPP, sem esquecer todos os outros, continua a navegar em águas cinzentas e nevoeiros intensos, que a falta de sentido de urgência também não nos permite avançar com os grandes projectos de obras públicas, com aquele Lino do deserto a ficar preso nas confusões dos aeroportos que não arrancam, e a senhora dos sociais-democratas a dizer que auto-estradas nos tempos de crise só nos fazem chegar mais depressa à bancarrota final, e as barragens servem apenas para que nos afoguemos no lodo da vida pantanosa que se reúne todos os dias na Assembleia da República, agora com mais brinquedos electrónicos, para distrair o pessoal que dormia nas bancadas, com tudo isto mais vale tomar um calmante, que cair doente num dos hospitais desta santa terra, agora com mais um santo Nuno a fazer negócio, é muito má ideia, e leva à vala ao lado da do senhor que caiu hoje à porta de um país que se perde todos os dias.