No meu primeiro escrito do ano novo, tenho que ser positivo. Faz parte da quadra festiva. E também das resoluções habituais nesta época.
É verdade que tenho lido, na mais variada imprensa, muito prognóstico negativo sobre 2016. Há um grande pessimismo no ar, a diferentes níveis. Nomeadamente sobre a Europa.
Um ponto de partida assim não é o melhor. E não tem em conta que há por aí muita gente a lutar para que as coisas não corram mal. A nossa voz deve, isso sim, juntar-se à voz dessas pessoas.
Aqui fica a promessa de uma escrita construtiva em 2016. Espero ser capaz de a manter.
Os “capacetes azuis” são, para muitos de nós, a face visível da ONU no terreno. Dão corpo a uma das funções mais centrais das Nações Unidas, a manutenção da paz. Para os estados membros, as operações de paz estão entre as questões internacionais que merecem mais atenção política. Muitos diplomatas acham mesmo prestigiante trabalhar nessa área das relações multilaterais, uma espécie de bife do lombo, bem mais atrativa que os temas do desenvolvimento, do ambiente, do comércio internacional e até, dos refugiados ou dos direitos humanos.
Apesar disso, o trabalho da ONU neste campo acha-se de novo numa encruzilhada, à procura do caminho certo. Já havia estado em risco, no final da década de noventa, após a confusão dos Balcãs. Recuperou e ganhou fôlego há dez anos, com os sucessos obtidos na Serra Leoa e na Libéria. Foi então introduzida a noção de “missão integrada”, no sentido de se combinar a ação militar com as dimensões de polícia e os aspetos civis da reconstrução nacional. Surgiram, nos anos seguintes, várias novas operações onusianas, sendo o Sul Sudão, o Mali e a República Centro-africana os exemplos mais recentes. Com a expansão acelerada das missões, as inconsistências tornaram-se evidentes. Não se trata apenas do atraso nos destacamentos, embora seja relevante ter presente que uma missão como a do Mali, passados um ano e meio, ainda tem mais de 30% dos efetivos em falta. Trata-se de outras questões. As insuficiências atuais derivam da ambição absurda dos mandatos definidos pelo Conselho de Segurança, do novo tipo de conflitos armados que têm surgido e da reduzida participação dos países mais poderosos nas missões de paz.
Quanto aos mandatos, a preocupação em dar uma resposta integrada a uma situação de crise nacional caiu no exagero. O que deveria ser uma operação excecional, por um tempo determinado, passou a ser encarado como uma intervenção de anos, uma sucessão de tarefas sem fim, como tem acontecido no Haiti ou na Costa do Marfim. Perdeu-se de vista o que é prioritário. Ora, as prioridades têm que ver com a restauração da segurança interna e dos direitos dos cidadãos. E, em simultâneo, com a facilitação de um processo político que leve à estabilidade democrática e resolva as causas profundas da violência.
Mais. Os conflitos do presente são diferentes das guerras civis e das rebeliões do passado. Estamos, na maioria dos casos, perante crises de grande complexidade. A resposta deve ter em conta a existência de vários grupos armados, com objetivos ambíguos e condutas assimétricas. As novas violências combinam diversos tons de fundamentalismo com banditismo de estilo paramilitar, tudo ensopado num molho híbrido, feito na base da exclusão étnica, da má governação, do desmoronamento das instituições públicas e, cada vez mais, do ódio ao que é entendido como o mundo ocidental. Nos últimos anos, a configuração das missões de paz deixou de ser adequada face a estas misturas explosivas.
Finalmente, há que sublinhar a questão da fraca participação da Europa e dos estados mais desenvolvidos. A realidade é simples: constituímos os países com maior capacidade de desempenho mas temos, ao mesmo tempo, uma presença quase insignificante nos contingentes da ONU. Em nome da eficiência – e também dos valores, da responsabilidade internacional e dos nossos próprios interesses vitais – é premente exigir mais. Meios existem e o treino, também. Falta a vontade política nas nossas capitais. O que é um paradoxo, quando se pensa na importância que se diz dar à manutenção da paz.
Manter a cabeça fria é uma virtude. Na vida e na política. Mas nem sempre é possível. De vez em quando surgem umas explosões. Uns arrebatamentos. Devem, no entanto, ser a excepção.
Neste momento, em Portugal, a excepção é a cabeça fria. A regra é a violência verbal, a intolerância perante os adversários, o ataque pessoal e a intriga. E isso acaba também por se reflectir no conteúdo do que escreve mos meios de comunicação social e nas redes sociais. Deixou de haver medida e imparcialidade, ganha quem gritar mais, quem for mais brutal e primário.
Devo dizer que tenho alguma dificuldade em mexer-me num ambiente assim. É fácil cair-se no pântano e chafurdar da mesma maneira, não nego. Por isso, uma certa distância em relação ao presente político faz bem à saúde mental.
Desse modo, quando me perguntam quando penso voltar à realidade portuguesa, digo que tenciono regressar na mesma leva que irá trazer D. Sebastião. Ou seja, ainda acredito que haja esperança.
Pensei naquele "fazedor de opinião" português, bem da nossa terra, que descobriu, nas suas últimas intervenções públicas, que o ideal seria despachar Angela Merkel para a Alemanha do Leste. Não sei onde o homem foi buscar essa da Alemanha do Leste, que há mais de vinte anos que desapareceu do mapa, mas a verdade é que muita gente que conheço talvez não se importasse mesmo nada se fosse "chutada" para estas terras, onde a economia funciona e a vida decorre sem grandes apreensões nem inseguranças.
Já agora, quem vai dizer a esse politico que a Alemanha do Leste já não existe?
No primeiro dia do Ano Novo, que mais se pode fazer do que desejar um feliz 2012 a todos os que têm sido fiéis a este blog?
O blog vai continuar em 2012. O objectivo continua a ser o de contribuir para uma visão mais ampla do quotidiano. Em simultâneo, a minha escrita procura dar perspectiva ao que vai acontecendo. É, ao mesmo tempo, um prisma e um binóculo.
Nada mais. Não queiram ver neste exercício mais do que a simples convicção que é importante participar na vida pública, mas sem motivos egoístas, sem ganho pessoal.
Gostava de chamar a atenção de quem me lê para o comentário que MG, o autor do blog Nação Valente, que eu sigo, fez ao meu poste "Uma posse sem posses". Creio que é um texto bem escrito, inteligente, com graça. O que não significa, claro, que se está inteiramente de acordo com o conteúdo.
A democracia é assim. Com diferenças de opinião, livremente expressas, mas com respeito.
O respeito é o que parece faltar a muitos dos nossos políticos. Construiu-se, em Portugal, uma vida política que se baseia no radicalismo verbal, na exclusão dos que não são do clube, na intolerância em relação às opiniões contrárias. E na falta de consideração pelo valor simbólico das instituições da República.
Temos um país dividido. Em vez de se procurar consensos, acentua-se a diferença. Em vez de se fazer um esforço para encontrar soluções que satisfaçam a maioria, acentua-se o fosso ideológico, mesmo quando a ideologia não tem nada a ver com o assunto. Somos um país de pequenos anarquistas, sempre à procura da bomba que provoque estilhaços e ruído. Gostamos de confusão, de abocanhar, de diminuir os outros.
E não entendemos bem como funciona uma democracia. Da legitimidade nacional que um acto eleitoral credível implica. Falamos de um governo PS ou PSD, quando na realidade é, uma vez instalado constitucionalmente, o governo do país. E depois agimos, como se fossemos apenas o governo do PS ou PSD. Falamos de um Presidente daqui ou dacolá, quando, na verdade, uma vez eleito, deve representar todos. E assim deve ser visto por todos, sobretudo pelos que têm responsabilidades públicas de alto grau.
Somos, nós os Portugueses, os nossos piores inimigos.
Defendo, no meu texto de hoje, na Visão, que os acontecimentos no Médio Oriente e Norte de África (MONA) nos vieram lembrar que uma política diplomática sem valores nem princípios leva ao descrédito de quem a pratica. A prazo, joga contra os interesses de quem a promove.
O oportunismo político não tem futuro, na era da internet e das redes sociais. As pessoas têm acesso à informação, sentem que os valores da igualdade e da liberdade são fundamentais, aprenderam a identificar ambiguidades, vacilações e interesses injustificados e não aceitam que a política seja feita desse modo.
O mundo tem mudado muito, nestas primeiras semanas do ano novo.
Escrevo, hoje, na Visão, sobre a campanha portuguesa que esta' a decorrer, com vista 'a conquista de um assento no Conselho de Segurança da ONU. Trata-se de assegurar a nossa presença durante o biénio 2011-2012.
No artigo, explico as vantagens de um lugar no Conselho.
Estamos a concorrer em competição com a Alemanha e o Canada'. Como so' existem dois lugares disponíveis, um destes três países vai ficar de fora. Qual sera'?
Voltemos aos espiões. A expulsão dos Estados Unidos dos agentes russos, por troca com espiões detidos na Rússia, foi um gesto positivo. Ambos os lados ganharam, prevaleceu a diplomacia e o bom senso. Mostrou que nas duas capitais ha' gente que entende que a cooperação e' mais importante do que a rivalidade.
O que teria sido um caso extremamente embaraçoso para o Kremlin acabou por ser um indicador de maturidade. Foi um voltar de página. Hoje, ha' mais esperança no mundo.
O meu texto na Visão on-line sobre a participação de Portugal em missões de paz ( http://aeiou.visao.pt/portugal-a-paz-e-o-mundo=f564719 ) -- trabalho que mencionei neste blog há dois ou três dias -- tem estado a atrair uma série de comentários, incluindo comparações entre o que as nossas Forças Armadas e de Segurança tiveram como funções antes do 25 de Abril de 1974 e as responsabilidades internacionais a que têm sido chamadas nos últimos vinte anos.
Da discussão é possível, uma vez mais, deduzir que a questão da descolonização continua atravessada na alma e nas emoções de muitos cidadãos. Embora tenham decorrido 36 anos, a verdade é que para muitos, os traumas vividos na altura continuam a marcar a sua visão da política externa portuguesa e, em particular, a sua relação com algumas das antigas colónias.
Creio que é normal que assim seja, pois o que aconteceu no seguimento do 25 de Abril foi uma mudança radical da história portuguesa. As transformações políticas e sociais de fundo têm grande peso na vida dos povos. E nem todos viram essas alterações sob o ângulo positivo e renovador que representaram.
Numa altura de crise política como a que Portugal vive hoje -- um fenómeno indiscutível, profundo, que pode ter consequências sísmicas comparáveis a Abril de 1974, e que só pode ser negado por quem sinta que a crise é, acima de tudo, um indicador da sua incapacidade de liderança e do fracasso das suas políticas -- é ainda mais tentador comparar o agora com o anterior. Só que os tempos e as circunstâncias são outros.