Não sei por que razão, mas a minha neta, com três anos e vários meses, fez-me pensar nos políticos portugueses.
Vou explicar.
Foi ao Jardim Zoológico – está uma maravilha, vale a pena visitar – e ficou largos minutos em frente do tigre, olhos nos olhos, apenas o vidro a separá-los. Sem medo nem nenhuma reacção de alarme. Depois, num repente, deu um salto para o lado e lançou um grito de desespero: Uma mosca!
Com as câmaras municipais endividadas até ao nariz – e muitas delas, pura e simplesmente falidas – ainda estou para perceber como há tanta gente interessada em concorrer às eleições autárquicas e à procura de um lugar de presidente de câmara.
Será que são todos ou quase todos masoquistas? Ou “pirómanos”, que querem ajudar a enterrar ainda mais a vida pública? Ou acharão que têm alma de salvadores da nação?
Não há dúvida que cada vez percebo menos da política portuguesa.
É sabido que os serviços de espionagem que operam a partir de algumas das embaixadas estrangeiras sitas em Lisboa apenas precisam de um cartão de crédito para obter informações. Ou seja, convidam as personalidades portuguesas para jantar e, durante o repasto, os nossos falam de tudo e de todos.
Este foi o diagnóstico feito hoje à tarde, por pessoa amiga, sobre a maneira como os ministérios reagem à incompetência de certas equipas ministeriais. Os quadros superiores, embora reconheçam o absurdo que caracterizou certas nomeações recentes para postos no governo, calam-se e fingem que sim.
Um dos diários económicos relata, na edição de hoje, que no primeiro semestre deste ano não houve investimento estrangeiro no sector do imobiliário comercial em Portugal. Nunca tal havia acontecido, nas décadas mais recentes.
Como interpretar? Fácil: não há confiança. E que deduzir dos resultados da chamada “diplomacia económica”? A resposta também não é difícil: não está a produzir resultados.
Deve, no entanto, dizer-se que o problema não é só português. Numa conversa em que participei, também hoje, com representantes de um grande banco do centro da Europa, falou-se na possibilidade de investir numa grande empresa pública italiana. A decisão foi aquilo a que chamaria “ambiguamente clara”: não deve ser considerado prudente investir nos países da zona euro que estão ou possam vir a estar em crise financeira…
Assim, subtilmente, se vai acentuando a destrinça entre uma zona económica de primeira e outra, que convém ignorar.
Os políticos – a começar pelos nossos – deveriam reflectir sobre isto a sério. E enfrentar a realidade com coragem. Mas, como diriam alguns, se os políticos soubessem reflectir sobre estratégia de economia e de desenvolvimento, e não apenas sobre intrigas e tricas, não teriam sucesso na vida partidária. E se tivessem coragem para enfrentar os problemas, seriam corridos dos partidos em que estão oportunamente filiados…
A Assembleia da República acaba de nomear dois deputados para o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP). Um deles vai mesmo servir como presidente desse Conselho de vigilância das “secretas”.
Num exemplo de renovação da classe dirigente portuguesa, os escolhidos são dois políticos que chegaram à política por serem filhos dos seus papás, que, por sua vez, foram homens políticos de marca. É a renovação em família.
Quem percebe destas coisas entende que o roubo dos documentos sobre o contrato dos submarinos, "cirurgicamente efectuado", revela que estamos mais entregues à máfia do que aquilo que se poderia imaginar. Uma máfia nacional, politicamente presente e com ramificações entre profissionais do golpe "limpo", tipo "secretas".
Isto está, não há dúvidas, pior do que se pensa.
Tem razão quem anda muito preocupado com a honestidade de uma certa classe dirigente.
A minha impressora disse-me que estava com a almofada cheia e que era preciso ir ao centro de manutenção da marca, para resolver o assunto. A almofada serve para absorver a tinta perdida. Esta é, teoricamente, a sua função.
Lá fui à sede da marca, depois a uma loja de pecas genuínas, e teria ido mais longe se não tivesse entendido, embora tarde, que era impossível encontrar a peça, pois a máquina é velha de três ou quatro anos e o mundo da informática muda todos os seis meses. A história da almofada era apenas um pretexto para me lembrar que era altura de comprar outra impressora.
Assim aconteceu. Deixei a velhota na reciclagem, embora me interrogue sobre o que significa reciclar uma antiguidade informática.
Que pena não haver, na política portuguesa, um esquema semelhante, capaz de nos indicar que este ou aquele político já apanhou tinta a mais, ao fim de quatro anos, e que é preciso arranjar outro, de um modelo mais recente, sem fios, capaz de nos tirar umas cópias por uns tempos. Bastaria introduzir um chip na cabeça de cada novo politico, com um prazo de validade bem definido e estaria o assunto resolvido.
É que, de facto, não vejo outra maneira de renovar a classe política.
A fragilidade do PM grego, já referida neste blog, tornou-se hoje ainda mais evidente. Veremos que futuro político vai ter, amanhã e depois.
Entretanto, os nossos miseráveis analistas, que acharam que a iniciativa referendária de Papandreou havia sido um golpe de mestre, já devem estar, esta noite, a pensar noutras ideias igualmente brilhantes.
Mas o mais curioso, para mim, foi ter chegado ao fim do dia, depois de ouvir ao vivo umas intervenções de políticos, convencido que a capacidade de produzir opiniões burras não tem limites, na vida portuguesa. O problema é que somos dirigidos, de um modo ou de outro, por essa gente.
O dia já tinha começado mal. Lera, antes da reunião, a opinião de uma deputada europeia, que nos representa em Estrasburgo e Bruxelas, e dei por mim a pensar na mula da cooperativa e nos dois coices no telhado. Isto depois do artigo do Avante sobre as conspirações macacas dos sionistas, mais os católicos e maçónicos. Que açorda, que combinação tão impossível, meus amigos. Só mentes assim, avançadas, poderiam produzir coisas dessas.