É fundamental que se saiba para onde se quer ir. Como também é muito importante ter sempre presente qual foi o ponto de partida.
Muitos de nós não temos uma ideia clara sobre o destino, nem mesmo um pouco de discernimento sobre o caminho que será mais apropriado escolher. Vamos andando, ao sabor dos ventos que sopram e das modas que outros inventam. Não temos agenda, temos apenas dias e um bom sopro de vida. Se nos perguntassem como justificamos o oxigénio que respiramos, a nossa pegada ambiental, ficaríamos incomodados com a questão mas incapazes de lhe dar uma resposta coerente.
Também nos esquecemos facilmente do ponto de partida. Ora, existem grandes diferenças entre nós. Há quem tenha nascido no andar de cima, com vista para a praça principal e para as avenidas largas, outros, na cave ou no telheiro. Gosto de perguntar a quem está no poder, seja que poder for, que faziam os seus pais e os seus avós. Uma grande parte dos que estão hoje em lugares cimeiros provêm de círculos sociais elevados. Nunca experimentaram uma situação de inferioridade social, não testemunharam o desespero de quem não se consegue fazer ouvir, não souberam o que é nascer e crescer na pobreza. Por isso, não entendem o que muitos lhes dizem, quando falam das dificuldades da vida.
Esse é um dos problemas do poder.
Por outro lado, convém lembrar que a liderança se aprende com o caminhar, sobretudo se o percurso vier de longe e tenha marcado pontos, deixado bandeiras que mostrem ao vento que passa que houve sucesso.
A preocupação dos políticos é a da reconstrução, sem demoras, logo que possível, do modelo económico que estava a funcionar. Restabelecer o emprego, os rendimentos das famílias, criar condições para que as empresas voltem à vida económica, essas parecem ser as linhas inspiradoras de quem tem o poder político. Não falam da mudança de paradigma económico, de um novo modelo social e produtivo. Mas esse debate irá estar em cima de muitas mesas. Arrisca-se, no entanto, a ser uma discussão académica, sem mais.
No nosso canto do mundo, o individualismo tomou conta de nós. Perdemos a noção de comunidade e de esforço colectivo. Tudo o que nos tira da nossa área de conforto é visto como sendo um sacrifício enorme, uma espécie de atentado contra a nossa liberdade. Tornámo-nos numa geração de comodistas e de egocêntricos. E de indiferentes.
No jornalismo, como em muitas outras áreas, a concorrência é enorme. É fácil encontrar um semanário ou um diário que se transformou num poço sem fundo, a perder dinheiro, leitores e jornalistas a olhos vistos. Os poucos que medram fazem-no graças às assinaturas digitais e à qualidade dos conteúdos. The Economist é um desses raros exemplos de sucesso. Cada texto é escrito com seriedade, bem assente em pesquisas sólidas e sabe combinar informação com opinião. Tem poucas fotos, que custam caro, mas sabe jogar com a apresentação gráfica, de modo a evitar a impressão de páginas demasiado densas. Tem servido de inspiração a outras revistas, que procuram seguir um modelo semelhante.
À questão da concorrência junta-se a profunda revolução na maneira de comunicar. Entre outros aspectos, as novas gerações perderam o gosto pelo papel. Só sabem manejar os telemóveis e as plataformas digitais. E querem coisas rápidas, com conteúdo resumido e contadas como se se tratasse de um filme de acção. A própria televisão está ameaçada por estes novos hábitos. Os telejornais e os programas genéricos começam a ser coisas de gente de idade.
Vem tudo isto a propósito de uma nota que me fizeram chegar sobre a escassez de leitores das colunas de opinião que aparecem nos nossos jornais e revistas. As soluções propostas eram de outra época. Como também seria de uma outra época pensar que os subsídios públicos salvariam a imprensa e a diversidade de opiniões. Seriam, isso sim, meras aspirinas. As dores de cabeça iriam continuar, mesmo com uma dose reforçada.
Por esse mundo fora, o Pai Natal roubou o protagonismo ao Menino Jesus. É Pai Natal para aqui, Pai Natal para acolá, do Oriente ao Ocidente, do Norte ao Sul. O centro comercial substituiu a cabana da vaquinha e do burrito, o centro comercial é o novo Presépio. São os tempos modernos, a era do marketing, do consumo e da ostentação, os novos símbolos da vida de agora.
O Menino Jesus transformou-se, com o tempo, num velho de barbas brancas, estranhamente vestido de vermelho, com um grande saco de mercadorias feitas na China às costas.
Definir o objectivo a atingir deve ser o ponto de partida no caminho para o sucesso. Isto aplica-se às instituições e também a cada um de nós. O problema é que essa definição não é tão fácil de fazer como possa parecer. Falando das pessoas, muitos de nós não temos uma ideia clara do que pretendemos obter. Fazemos coisas, muitas coisas, muitas vezes, extremamente bem feitas, mas sem saber como as inserir num objectivo último, um objectivo que somos incapazes de explicitar com um mínimo de coerência. Ou seja, andamos ocupadíssimos, alguns pelo menos, mas não sabemos para onde queremos ir.
No meu blog em inglês, escrevo hoje, de modo breve, sobre os movimentos de cidadania. Procuro resumir a análise a três pontos: a importância desses movimentos em termos de câmbio social; o uso das plataformas sociais e da comunicação social convencional; e as razões que explicam os sucessos que certos movimentos obtiveram.
Nesta coisa da opinião pública, há quem critique os que se lamentam. E rematam, dizendo que essas pessoas deveriam, isso sim, ter uma postura positiva e propor soluções.
Discordo dessas críticas. Queixar-se faz parte da vida em sociedade. É uma manifestação de desagrado, senão mesmo de desespero e de revolta. As redes sociais desempenham, então, um papel importante de veículo dessas frustrações. Ainda bem que existem.
Falar bem e barato é a melhor maneira de enganar tolos. E uma das características dos tolos é a de gostarem de ser enganados. Engolem tudo, sem abrir os miolos.
No meu país ideal não há lugar para as faltas de civismo e a desobediência às regras. Como também não há espaço para que um dirigente político de primeira linha possa dizer alto e bom som que a norma no seu partido é a de não ultrapassar a velocidade de 139 km/hora.