Stefan Lofven vai continuar como Primeiro-Ministro da Suécia. Será o seu segundo mandato. Lofven é dirigente do partido Social Democrata, um partido do centro-esquerda, no panorama político nacional.
As eleições tiveram lugar em Setembro de 2018. A formação do novo governo foi demorada, quatro meses à procura de entendimentos. Esse foi o tempo necessário para que os diversos partidos dos dois principais blocos de opinião, a esquerda e a direita, pudessem chegar a um acordo de governação, que assenta em 73 medidas.
A principal preocupação, de um lado e do outro, foi a de impedir a entrada dos ultra-direitistas do partido Democratas Suecos na área da governação. Os Democratas Suecos, que seguem uma linha política cegamente nacionalista e xenófoba, haviam obtido nas eleições gerais de Setembro 17,5% dos votos. Um resultado surpreendente, que faz desse partido o terceiro mais votado.
A Suécia deu-nos, assim, um exemplo que convirá repetir noutros países europeus. Ou seja, ter a coragem política e a paciência para encontrar plataformas amplas, à esquerda e à direita, que excluam os extremistas e os ultra-nacionalistas e os deixem num canto do parlamento, isolados e a falar sozinhos.
Há quem chame a essa opção política “cordão sanitário”. Por mim, vejo aí apenas bom senso político. Os extremistas fazem parte da paisagem política das democracias europeias. Não deve haver dúvidas sobre isso. Mas abrir-lhes as portas do poder, como aconteceu num ou outro país da UE, está errado. Como também não é aconselhável o oportunismo de alguns do centro-direita ou do centro-esquerda, que, para estarem no poder a qualquer preço, fazem pactos e usam os extremistas como bengalas parlamentares.
Uma das razões políticas que justificam o projecto “União Europeia” tem que ver com o combate à xenofobia. A cooperação, a partilha, a livre circulação e a integração permitem aproximar os cidadãos das várias nações europeias. Contribuem para uma maior compreensão das diferentes culturas que constituem o espaço europeu. Permitem atenuar – e mesmo eliminar, esse será o objectivo – os sentimentos racistas e xenófobos que durante séculos tantos conflitos provocaram entre os diversos povos.
A imigração tornou-se um tema político central em vários países da UE. Deve, por isso, ser tratado frontalmente pelos partidos que giram à volta do eixo central, as forças políticas moderadas e com tradição de governo. O pior erro seria deixar a extrema-direita dominar o discurso sobre a imigração, definir a agenda e transformar a questão numa bomba social.
Nestas bandas da Europa é tradição oferecer ramos de junquilhos no dia 1º de maio. É a flor da Primavera e dos sorrisos que vêm com um tempo mais ameno.
Hoje, no minúsculo comício que o velho senhor Jean-Marie Le Pen organizou em Paris, um comício que foi uma mistura de farsa e de saudosismo serôdio, apareceram dois adolescentes a vender junquilhos aos ridículos fascistas e outros saudosistas presentes. Quando um jornalista de serviço lhes perguntou se estavam ali por simpatia com a FN, disseram que não. Tratava-se de uma pura iniciativa comercial.
Um sentido de oportunidade de negócios, diria eu, depois de os ouvir acrescentar que aproveitavam o facto de não haver concorrência. Os paquistaneses, que são quem anda nestas andanças das vendas ambulantes de flores, não ousavam aproximar-se das gentes racistas de Le Pen. Deixavam assim o campo livre aos dois jovens, que esses sim, eram bem franceses de aspecto e podiam tratar do seu negócio em paz.
Filipe tem pouco mais de trinta anos, mas já vive na Suíça há cerca de doze. É condutor numa empresa. A sua mulher, também de nacionalidade portuguesa, trabalha numa casa de repouso para a terceira idade, como técnica especializada em geriatria. Vivem bem.
Por razões profissionais, sempre que vou à Suíça estou com o Filipe. E pergunto-lhe como vai a presença portuguesa nas terras helvéticas. A resposta, nos últimos anos, tem sido sempre a mesma. Filipe não gosta de ver chegar à Suíça novos imigrantes, e isso também se aplica aos que vêm de Portugal. É a favor de uma política mais apertada, que torne a imigração mais difícil e leve a uma diminuição das novas entradas. Na realidade, vê em cada imigrante que vá aparecendo um competidor, alguém disposto a trabalhar por um salário mais baixo e que poderá pôr em causa o seu emprego ou pelo menos, o seu nível de vida.
Se pudesse votar, o seu apoio iria para o partido nacionalista suíço, gente que se opõe à entrada de novos trabalhadores estrangeiros, mesmo quando provenientes de países da UE. Isto apesar do acordo que existe entre a Confederação Helvética e a UE sobre a livre circulação das pessoas.
Em França há muito português que pensa como o Filipe. Um bom número desses lusitanos já tem a nacionalidade francesa. Irão votar, amanhã. Sabe-se que muitos apoiam Marine Le Pen. Votam, sem hesitações, pelo partido da xenofobia, eles que ostentam nomes de família que são obviamente de fora, sem raízes gaulesas. Mas votam contra a onda que poderá vir a seguir. E que estará disposta a trabalhar em condições que os portugueses da primeira geração conheceram em França, anos atrás.
Muitos imigrantes de origem turca residentes na Bélgica têm dupla nacionalidade. São simultaneamente belgas e turcos. Mesmo os mais jovens, já nascidos e criados nas terras da Flandres, da Valónia ou em Bruxelas, acabam por optar pelo exercício e os direitos das duas cidadanias.
Por isso, todos puderam votar no referendo de ontem.
Agora, sabido o resultado, veio o choque. Sim, 75% dos belgo-turcos votaram a favor das propostas antidemocráticas de Erdogan. Uma percentagem muito elevada, bem acima de outras comparáveis.
E isso está a levantar sérias dúvidas sobre o grau de integração destas pessoas numa sociedade pluralista e tolerante como a da Bélgica. Dá, além disso, aos nacionalistas belgas de várias estirpes mais pano para mangas e mais argumentos contra a imigração.
Este é o link para o texto que acabo de publicar na Visão on line.
E fica igualmente a preocupação que certos círculos europeus partilham - e com toda a razão - no que respeita à eleição presidencial francesa.
François Hollande ficará na história francesa com uma nota fraca. Seria terrível se a essa nota se viesse juntar a impressão que a sua acção política teria aberto as portas do Eliseu à extrema-direita que Marine Le Pen encabeça.
Não me parece estratégico falar de populismos de um modo indefinido. O verdadeiro risco, a ameaça em vários países europeus, provém da extrema-direita. É essa gente que tem a possibilidade de chegar ao poder, se os contextos nacionais e europeu continuaram a não responder às ansiedades de uma boa franja dos eleitores. Por isso, o combate político deve ter como alvo principal esses movimentos. E deve ser feito de modo amplo, em aliança com todos os que se opõem ao ressurgimento das ideias xenófobas, racistas e fascistas.
Hoje foi em Munique. Os atentados continuam a encher a actualidade e provocar muita dor. Mas seria um exagero dizer que estão a criar um clima de pânico nalguns países da Europa. Isso é o que os terroristas querem que aconteça. Mas as populações continuam a acreditar na segurança das nossas cidades. Continuam a ter confiança nas suas polícias. Continuam a ver a Europa como um continente de tranquilidade.
Quem estará a perder com tudo isto serão alguns políticos, os que dão a impressão de andar perdidos e incapazes de tomar certas medidas, nomeadamente as que se relacionam com uma maior integração e melhor coordenação das forças policiais.
Também estão a perder as comunidades de imigrantes e de refugiados. Os atentados mancham a reputação dos inocentes, pelo simples facto de A ser parecido ou ter a mesma religião que B. E essa perda é muito nefasta. As nossas sociedades têm comunidades estrangeiras muito diversas. Essa é a nova realidade. Uma realidade que precisa de ser vista pela positiva. Mas não é fácil.
Assim, a recusa de quem é diferente será a grande consequência de tudo isto. Vamos no sentido de uma imensa fragmentação étnica na Europa. Será aproveitada por muitos sem escrúpulos, de ambos os lados da barricada. E é isso que faz com que a actualidade não seja nada encorajadora.
Amanhã é o Dia da Europa. Talvez seja a altura de nos interrogarmos sobre os grandes desafios actuais. Um deles, um dos mais fracturantes, é o das migrações. Não diz respeito apenas aos refugiados e a quem vem de fora do espaço europeu. Toca também a todos os europeus, que por razões de vida, residem num outro estado da comunidade, e não no seu país de origem. Vamos deixar os arautos da xenofobia, que é hoje, de novo, um fenómeno que não pode ser ignorado, decidir sobre o futuro do nosso projecto comum?