A aposta de Mélenchon
Quando se trata das eleições legislativas, o sistema francês está muito personalizado. Em cada circunscrição, ganha o candidato que, ao passar à segunda volta – se não tiver mais de 50% na primeira e se a taxa de abstenção nessa circunscrição não for muito elevada – fica à frente. Por isso, a personalidade, a experiência e a credibilidade do candidato contam de sobremaneira. Mas não totalmente. Os eleitores também têm em conta a etiqueta política do candidato. Por exemplo, um eleitor da extrema-direita votará, salvo raras excepções, pelo candidato que o partido de Marine Le Pen apresentar.
Desta vez, Jean-Luc Mélenchon conseguiu introduzir um factor novo no processo. Fez campanha para que a eleição fosse vista como uma disputa entre ele e Emmanuel Macron. Ou seja, deu uma dimensão nacional a uma eleição que era normalmente influenciada pelas candidaturas locais. Votar por qualquer candidato da sua coligação representaria dizer não a Macron. Apostava assim em duas linhas políticas: na necessidade de estabelecer um contrapeso, para evitar o poder absoluto do presidente; na impopularidade – aversão, diria mesmo – de Macron junto de determinados sectores da população. A isso juntava uma série de propostas populistas, como por exemplo a reforma aos 60 anos e um salário mínimo aumentado para 1500 euros, ou seja, mais 200 euros do que o valor actual.
Foi uma aposta astuta.