A causa monárquica não faz parte do nosso debate actual
Ontem, na CNN, repeti que a apreciação pelo reinado e pela pessoa que foi Isabel II não faz de nós menos republicanos. Aliás, nem isso está em causa. Não se trata de defender ou atacar o regime monárquico que um outro país tenha em vigor. A questão monárquica não existe em Portugal. Não vale a pena falar e argumentar sobre um tema que não faz parte do debate político nacional. Nem entrar em explicações sobre princípios que uma monarquia não respeitaria, como o da igualdade ou do mérito. Até porque essas dimensões da igualdade e do mérito são certamente mais evidentes em países como o Reino Unido, a Bélgica ou a Dinamarca do que neste nosso canto da Europa, onde, aqui entre nós, a maior parte dos que hoje detêm algum tipo de poder são descendentes de pais e avós que já eram diplomados universitários numa altura em que quase ninguém o era. Bem vistas as coisas, o mérito e a progressão social são mais fáceis nas terras da defunta Rainha do que por aqui. Não se tem falado ou escrito muito sobre a perpetuação das nossas classes sociais, mas ela existe. É aí que deveria estar centrado o debate, e não sobre a forma monárquica de poder que não interessa a ninguém, com excepção de meia dúzia de excêntricos.