A cena internacional está cada vez mais complicada
A cena estratégica internacional está a mudar a grande velocidade. Começa a ser difícil acompanhar as mudanças, quando não se tem uma equipa de apoio. Os observadores a título individual, como é o meu caso, precisariam de trabalhar 24 horas por dia.
Hoje, por exemplo, aconteceram duas situações que são estruturalmente importantes.
Primeiro, foi o anúncio do acordo de defesa entre os EUA, o Reino Unido e Austrália, a que chamam AUKUS, sem qualquer consulta prévia com os aliados europeus e acompanhado, para cúmulo, da anulação de um contracto que a Austrália fizera com a França. Esse contracto, da ordem dos 56 mil milhões de euros, dizia respeito ao fornecimento de uma dúzia de submarinos de propulsão convencional, que a Austrália encomendara à França. A Austrália assinou agora uma nova encomenda com os EUA, para o mesmo número de submarinos, mas de propulsão nuclear.
Segundo, temos o Parlamento Europeu a aprovar uma resolução claramente hostil a Vladimir Putin. Essa resolução pede à Comissão Europeia que tome um determinado número de medidas retaliatórias e de sanções contra o grupo no poder em Moscovo. A resolução leva o conflito com a Rússia para um patamar mais elevado de tensão. Mesmo que não leve a um qualquer resultado prático, dá ao Kremlin a oportunidade de tirar dividendos desta manifesta hostilidade. A relação com a Rússia deve ser firme, estou de acordo, mas não pode fechar as portas do diálogo. Tem de ser construída com pilares positivos. As sanções e outras medidas devem sempre deixar uma possibilidade de se encontrar uma solução.