A entrevista que dei ao DN (6)
De Joe Biden a Xi Jinping, de Jair Bolsonaro a Narenda Modi, passando por Vladimir Putin, Boris Johnson, Emmanuel Macron, Ali Khamenei, Cyril Ramaposa ou Fumio Kishida, concorda com quem diz que geral os líderes de hoje são uma sombra das grandes figuras do passado, mesmo recente?
Os tempos são outros, é muito difícil fazer comparações. No passado, o poder e as relações sociais tinham a forma de pirâmides. Aceitava-se mais facilmente a hierarquia e o comando vindo do topo. Hoje, vivemos em sociedades tendencialmente horizontais, cada um vê-se como igual ao seu vizinho. A autoridade, para ser aceite, precisa de outros atributos, muito para além do formalismo das funções. Para mais, existe uma abundância de informação largamente acessível, mas geradora de confusões, de fragmentação das opiniões e de espaço oportunístico para os mais diversos manipuladores da opinião pública. Num mundo horizontal, confuso e fragmentado, só pode ser um líder aceite e positivo quem conseguir dar um sentido otimista e mobilizador ao contexto em que vivemos. O líder tem de saber explicar o que se passa, propor um rumo e dar esperança ao futuro.
Quando digo liderança positiva, refiro-me a quem tenha uma agenda progressista e transformadora da sociedade, ao contrário de um Donald Trump, que também considero um líder, mas negativo. Também não estou a falar de líderes neutros, populares certamente, mas que não aproveitam essa popularidade para fazer avançar os seus países.