A igualdade aparente
Ser operado ao olho direito no Dia das Mentiras talvez não pareça coisa muito séria. Mas assim foi. Entrei às sete da manhã, passei para a sala de operações às oito, voltei ao meu quarto às 09:30 e tive alta pouco depois do meio-dia. Tudo exactamente como programado. Como o meu cirurgião é um dos grandes especialistas de Bruxelas, e como não havia urgência, tive que esperar quatro meses por vez. Faz oito cirurgias por semana, todas à terça-feira de manhã.
O hospital é privado, ou seja tem uma gestão independente do sistema nacional de saúde e é propriedade de investidores privados, mas o que que conta é o regime de segurança social dos pacientes. Um paciente no regime geral, público, pode optar por se fazer operar nesse hospital, se o seu médico operar aí. O sistema público reembolsa o hospital, de acordo com uma tarifa previamente estabelecida por acordo para cada tipo de intervenção.
É um sistema relativamente igualitário. Mas não totalmente. No meu caso, como não estou inscrito em nenhum sistema nacional de saúde – estou abrangido por esquema próprio da ONU – as limitações são menores. Isto que dizer que uma lente inserida na vista de um paciente do sistema público tem um limite de preço, e por isso, de qualidade. Ou seja, o que parece 100% igualitário acaba por não o ser.
Faz reflectir.