A política vista pela cabeleireira
A senhora que me corta o cabelo respondeu-me que a semana fora fraca, em termos de clientes. A sua freguesia é feita de mulheres que vêm arranjar o cabelo, as unhas e outros serviços de beleza. Eu sou dos raros clientes masculinos. O salão é um sucesso comercial: está sempre atarefado, são marcações atrás de marcações. Excepto esta semana, que esteve cheia de buracos, de tempos mortos. Disse-me que a razão tinha que ver com o chumbo do orçamento e as incertezas daí decorrentes. As clientes andam preocupadas, têm medo das consequências económicas da crise política, acham que os pequenos benefícios que o orçamento anunciava não se materializarão. Cortam, então, nas despesas. Não cortar o cabelo é uma maneira de cortar nas despesas.
Fiquei a pensar nesta conversa. Isto da política tem reacções inesperadas, por parte dos eleitores. E aqui, a ideia que a cabeleireira queria transmitir foi clara: o chumbo na Assembleia da República não terá sido apreciado por muitas das suas clientes.