Ainda sobre a crise à volta da Ucrânia
O Presidente Vladimir Putin diz não ter a intenção de invadir a Ucrânia. Porém, os factos no terreno, junto à fronteira comum, mostram uma realidade muito diferente. Neste momento, o número de tropas russas destacadas para várias regiões russas à volta da Ucrânia é estimado em cerca de 100 000 efectivos. Mais ainda, nesta última semana, os meios logísticos enviados para essas zonas aumentaram de modo bastante visível. Esses meios permitirão sustentar uma operação militar de grande envergadura.
Temos assim uma séria contradição entre as declarações políticas e a preparação do que poderá ser uma grande campanha militar. É possível que se trate fundamentalmente de uma demonstração de força, de uma mensagem política com vista a possíveis e previsíveis negociações diplomáticas. Mas é uma situação preocupante. Não pode de modo algum ser ignorada.
Os presidentes russo e americano têm prevista uma conversa telefónica para próxima a próxima terça-feira. Seria ideal que contacto permitisse fazer avançar o processo político-diplomático. Tenho, no entanto, poucas esperanças. O provavelmente acontecerá, receio, será ver cada parte repetir aquilo que já foi dito e nada mais. Do lado russo, falar-se-á de linhas vermelhas, da segurança nacional, dos laços históricos entre Rússia e Ucrânia, da ameaça que representaria um apoio militar directo ao governo de Kiev e pouco mais. A presença de tropas na zona fronteiriça será justificada por razões de defesa nacional e pela crescente intervenção ocidental na Ucrânia. Do lado americano, repetir-se-á o imperativo de respeitar a soberania da Ucrânia, as possíveis sanções se isso não acontecer e a vontade de continuar o diálogo com Moscovo.
Seria um erro ignorar gravidade da situação existente e os riscos de se entrar numa confrontação aberta e violenta, cujas consequências seriam catastróficas quer para Ucrânia, quer para a Rússia e para qualquer outro país que se implicasse directamente no conflito.