As instituições em democracia
O meu texto de ontem no DN. Convém ler cada palavra, pois trata-se de um texto muito condensado, sem palavras a mais, em que cada palavra conta.
Fragilidades e tiros nos pés
Victor Ângelo
Sabe-se, mas convém lembrar. Em democracia, por muito maus ou incompetentes que sejam os políticos, a legitimidade resulta das urnas e do regular funcionamento das instituições. Temos os dirigentes que o eleitor escolhe. Quem ganha mais votos governa, dentro do quadro constitucional e do respeito pela separação de poderes. Não cabe aos comentadores políticos, aos generais na reforma, aos dirigentes sindicais ou às minorias mais ou menos messiânicas decretar a ilegitimidade política dos governos e passar o tempo a pedir o seu derrube.
Mas em Portugal temos uma situação especial. É frequente aparecer quem diga que o país está numa desgraça e que o alto interesse nacional requer que se vire tudo de pantanas. Alguns até sugerem, com meias palavras, mas com intenções claras, a possibilidade de um golpe de Estado em nome de uma ideia de Portugal que poderá até ser nobre mas cujo conteúdo é absolutamente impreciso, passadista e revelador de imaturidade política. Ainda recentemente, neste mesmo jornal, li um apelo desse género, feito por um oficial general de outrora que acha de modo simplista que a contradição fundamental da nossa sociedade é a que opõe a generosidade dos militares à ganância dos políticos.
No clima de insurreição verbal permanente em que vive hoje a política portuguesa tudo isso parece aceitável. Mais ainda, surgem logo de seguida umas vozes, porventura bem-intencionadas, a dar crédito a esse tipo de desvarios.
Andamos assim aos tiros nos nossos próprios pés. Num momento em que precisamos de investimentos como de pão para a boca, as manifestações de imaturidade institucional e de fragilidade democrática correm o risco de afastar quem poderia investir. Investidores a sério não gostam de incertezas.