As palavras de Vladimir Putin
O discurso de hoje de Vladimir Putin seria sempre lido com muito cuidado. A data representa um momento muito especial no calendário russo. Mistura uma dose enorme de patriotismo doentio com militarismo exacerbado.
Para além das falsidades históricas e das mentiras correntes sobre as razões da agressão à Ucrânia, foi um discurso de quem passou agora a jogar à defensiva e que gostaria de ver o jogo acabar rapidamente, guardando, claro, as vantagens obtidas. Também quereria sair do jogo sem penalizações, como se nada de grave tivesse acontecido.
Será preciso reflectir sobre essa nova postura de Putin. Mas, de imediato, seria necessário que houvesse um cessar das hostilidades. Uma pausa nos combates deve ser um primeiro passo para que se possa começar a discutir os cenários possíveis, após esta agressão muito grave da liderança russa contra a população e o Estado ucraniano.
Infelizmente, não creio que tal venha a acontecer. A ofensiva irá continuar.
Entretanto, foi curioso notar que os 77 aviões da força aérea russa, cuja passagem estava prevista, não entraram no desfile. As armas dos militares de infantaria e de artilharia desfilaram, como de costume, sem munições. Não representavam qualquer perigo para a tribuna oficial. Já o controlo dos aviões teria sido bem mais complicado. Um deles até poderia decidir entrar num voo picado em direcção a Putin. Nestes tempos de confusão, é melhor não arriscar. A desculpa com o mau tempo não enganou ninguém.