Ashraf Ghani
Ashraf Ghani foi hoje forçado a abandonar a presidência do Afeganistão. A queda do seu regime tem um significado enorme, não apenas para a história do seu país como também para a maneira como as democracias ocidentais intervêm nos conflitos de outros povos, com outras culturas e em contextos geoestratégicos profundamente complexos. Vai ser preciso reflectir sobre tudo isso, nos próximos dias.
Entretanto, quero aqui lembrar que passei uns dias com Ashraf Ghani, em 2005, em Long Island, a uma hora de carro de Nova Iorque, num retiro organizado para altos quadros da ONU. Ghani havia deixado de ser ministro das finanças recentemente. Nessa qualidade, e por ser um antigo colega do Banco Mundial e das Nações Unidas, foi convidado a participar nas nossas discussões geopolíticas e a partilhar connosco a sua visão sobre o futuro do Afeganistão.
A imagem que me ficou na memória, ao longo de todos estes anos, lembra-me que se tratava de uma pessoa afável e, acima de tudo, de um sonhador que falava pelos cotovelos e com os pés pouco assentes na terra. Organizações como a ONU gostam de gente faladora, que atira ideias às rajadas, e nem sempre se apercebem que a conversa esconde uma grande ausência de realismo e de capacidade de ouvir os outros. Ghani era uma figura idolatrada, por tudo isso e porque o Afeganistão estava no topo da agenda.
Não quero aqui fazer o balanço dos seus anos na presidência. Fica apenas o registo da sua saída em fuga.
E também uma palavra de precaução em relação aos políticos que falam sem parar e imaginam realidades que não são consistentes com o quotidiano das pessoas.