Cuba e as suas circunstâncias
É verdade que o bloqueio americano contra Cuba, que foi seriamente agravado durante o mandato de Donald Trump, tem um impacto enorme na economia do país. A pandemia veio agravar ainda mais a situação, ao reduzir a zero, ou quase, o turismo vindo de fora, que fazia viver alguns sectores da população. A tudo isso acrescentam-se mais duas dimensões negativas: uma burocracia muito pesada, com um número excessivo, injustificado e dispendioso de funcionários; e o erro ideológico de não querer abrir o campo de acção da iniciativa privada, que, por causa das limitações impostas, não consegue crescer.
O resultado não poderia ser outro: agravamento da pobreza, privações de toda a espécie, lojas estatais vazias, sem os alimentos básicos em número suficiente, e crescimento exponencial dos mercados clandestinos, a preços inabordáveis. Sem esquecer as repercussões sobre o sistema de saúde, numa altura em que a pandemia está em força.
Por tudo isto, muitos cidadãos, nos mais variados pontos do país, vieram para as ruas este fim-de-semana, para manifestar o mal-estar existente e a oposição aos líderes actuais. Também clamaram pela liberdade política, que é um bem ainda mais raro do que a carne de frango, que só está disponível duas vezes por mês, um frango por família, nos armazéns oficiais.
O chefe do Estado reagiu como sempre viu fazer e foi aprendendo ao longo dos anos de militância no partido dos Castros – opondo aos cidadãos as milícias do partido e as polícias, e insultando as pessoas. Mostrou não estar à altura. O pouco prestígio que ainda tinha levou um grande abanão.
Felizmente para ele, os americanos continuam a implementar o embargo e a dar-lhe uma desculpa e um inimigo a quem atribuir as culpas.