De Bucha ao colapso do multilateralismo
As atrocidades cometidas em Bucha, a noroeste de Kyiv, chocaram meio mundo. Digo assim, pois esses crimes não apareceram ainda na imprensa chinesa. Mas o mundo que ficou chocado não esquecerá Bucha e muitas outras localidades até agora ainda ocupadas pelas tropas russas. Os factos deverão ser estabelecidos com o rigor possível e as consequências penais desses crimes de guerra terão que ocorrer.
Na UE, e também nos EUA, estas atrocidades provocaram uma nova onda de reacções contra Vladimir Putin e os seus. O fosso entre as partes é cada vez mais profundo. Entramos, em grande medida, numa confrontação que começa a ser vital para ambos os lados. Um conflito desse tipo é bastante perigoso. Quando se entra numa fase dessas, cada lado quer levar o outro à derrota. E essa rota está, neste momento, a ser percorrida de uma forma acelerada. A mediação entre a Rússia e o Ocidente parece estar a tornar-se impossível. Temos aí um risco grande e prolongado.
Um risco que se alastra. O primeiro-ministro do Paquistão, que ia ser derrubado por uma moção de censura do seu parlamento, dissolveu o mesmo, com o pretexto de que se tratava de uma conspiração americana. O vizinho do lado, a Índia, joga a carta da neutralidade, mas mantém uma relação sólida com a Rússia. E mais acima, a China, continua a apostar em tudo o que possa conduzir a uma fractura entre a UE e os EUA. Em África, a África do Sul e outros estão a voltar aos tempos do não-alinhamento, que neste caso, significa não criticar a Rússia.
Entretanto, a Indonésia prepara a cimeira deste ano do G20, que deverá ter lugar em outubro, ou pouco depois. Mas, haverá cimeira? Se a Rússia estiver presente, vários outros Estados não irão comparecer. A confrontação a que assistimos irá provocar o colapso de certas instituições multilaterais.