Dia de falar da Sida
Hoje é o Dia Mundial da Luta Contra a Sida. Não convém deixar passar a data em branco. A epidemia continua a infectar milhares de pessoas por dia. Nalguns países é uma causa de mortalidade de primeira importância.
Quando trabalhei na África Austral, vi muita gente sucumbir à doença. Incluindo gente com quem trabalhava no quotidiano. Uma dessas pessoas foi a minha empregada doméstica, uma mulher cheia de energia e de vontade de fazer coisas, uma gigante em todos os sentidos. Como muitas mulheres, foi infectada pelo marido.
Lembro-me igualmente de dois colegas do escritório da ONU em Harare. Dois zimbabueanos, um homem e uma mulher. Estavam ambos num estado avançado da infecção. Outros, na nossa delegação, já haviam falecido antes deles. Estes dois salvaram-se porque a ONU passou então a reembolsar as despesas que o pessoal nacional tivesse que desembolsar com a aquisição dos medicamentos, despesas que eram muito elevadas e não estavam à altura de quem recebia um salário local. Um anos depois do início do tratamento pareciam outras pessoas. Ninguém diria que estavam infectados. Mais tarde, fui encontrar um deles na Serra Leoa, na missão de manutenção de paz da ONU. Como era uma mulher ainda jovem e muito mexida, acabou por arranjar um companheiro entre o pessoal internacional da missão. Com quem vivia. Nunca disse ao seu novo companheiro que tinha um problema. E eu também não o informei. Hesitei várias vezes, falei com ela sobre o assunto, mas sabia que ela não lhe diria. E eu também não disse. Achei, bem ou mal, que a responsabilidade não era minha.
Estes são os dilemas de quem anda por onde há problemas humanos por todos os lados.