Estamos entregues aos trapalhões
Não percebo qual foi o motivo que levou Nicolas Sarkozy a escrever o que escreve sobre a UE na edição do magazine Le Point publicada ontem.
Influenciar os eleitores de direita e tentar evitar um êxodo do seu eleitorado na direcção da Frente Nacional de Marine Le Pen? Talvez. Mas o seu texto não influencia ninguém, nesta fase do processo, como uma sondagem hoje realizada pelo Figaro, um jornal da mesma área política, o revela.
Mostrar que ainda mexe politicamente? Talvez. Mas mexe mal, que o texto é um apanhado de contradições. Sem contar que defende uma Europa franco-alemã que já não existe.
Tentar pôr em xeque François Hollande? Talvez. Mas Hollande não precisa de Sarkozy para meter os pés pelas mãos. Sabe-o fazer sozinho, não precisa das piruetas de um rival que ainda não aceitou a derrota. Sem esquecer, diga-se, que a posição de Hollande em relação à Europa é construtiva e realista.
Será um mero exercício de hipocrisia política? Talvez.
A verdade é que ao ler o texto fiquei a pensar como foi possível ter entre os dirigentes da Europa, no passado recente, um trapalhão como este?
Assim não vamos lá. Nem em termos do projecto comum, nem mesmo em termos de atrair os cidadãos a ir às urnas.