Macron perante uma realidade política muito complexa
Apesar do resultado obtido por Marine Le Pen ser próximo dos 42% dos votos expressos, seria um erro dizer que que cada um desses votos é da extrema-direita. Uma parte dos que votaram a seu favor fê-lo para marcar a sua oposição a Emmanuel Macron. Uns, por causa do estilo do presidente, outros por não apoiarem a sua proposta de aumentar a idade da reforma para os 65 anos, outros ainda por verem em Macron um defensor da globalização e assim sucessivamente. O voto em Le Pen foi a maneira de mostrar o seu desagrado.
Uma análise dos resultados da primeira volta permite uma conclusão mais acertada sobre o peso da extrema-direita. Somando os resultados obtidos pelos candidatos dessa área, temos 32,53% dos franceses a votar radicalmente à direita. Esse valor é preocupante. Quando um em cada três cidadãos vota dessa maneira, algo está errado nessa nação. É isso que precisa de ser entendido. A começar pelo facto de que uma boa parte desses votantes pertencem ao operariado e às classes com menores rendimentos. Outrora, muitos deles votavam pelos comunistas e pelos socialistas. Mas esses partidos tradicionais desapareceram do leque político nacional. E o partido de Le Pen, que é uma salganhada ideológica, oferece um ponto de ancoragem política a essas pessoas.
Emmanuel Macron não vai ter uma tarefa fácil. O conjunto dos votantes antissistema, todos os extremismos confundidos, representam cerca de 56% da população. É muita gente. E para além de Marine Le Pen, Macron terá de se haver com Jean-Luc Mélenchon, um demagogo da extrema-esquerda. Mélenchon está a preparar uma campanha eleitoral para as legislativas de junho que poderá ter um sucesso relativo importante. A principal tarefa de Macron, até junho, será a de criar um espaço de convergência ao centro, de modo a diminuir as votações em Le Pen e Mélenchon. Não será fácil.