Mais um drama na Guiné-Conacri
A Guiné-Conacri é um país de grande beleza natural. As terras altas da região do Fouta Djallon são de uma grandiosidade natural que deixa todos os visitantes deslumbrados. É nessa região que nascem alguns dos rios mais importantes da África Ocidental – o Rio Gâmbia, o Senegal e um dos principais afluentes do Rio Níger, para além de muitos outros.
O xadrez humano é também bastante diverso.
O país tem no seu subsolo vários minerais de grande valor, diamantes, ouro e vastíssimas reservas de bauxite. Mas continua a ser um país essencialmente agrícola, produzindo o que necessita para subsistir. Subsistência é a palavra exacta, porque a maioria dos seus habitantes vive numa situação de pobreza, ao nível da simples sobrevivência.
Quando trabalhei na Serra Leoa, país que partilha uma longa fronteira com a Guiné, ia frequentemente a Conacri e às localidades guineenses nas zonas fronteiriças. Tinha assim oportunidade de contactar as autoridades nacionais e locais e de perceber melhor os problemas de um país que uma longa experiência política marxista havia arruinado a economia e criado uma função pública enorme e pouco ou nada eficiente. As próprias forças armadas eram pouco mais que um exército de maltrapilhos.
Essa situação mudou muito a partir de 2010, com a chegada ao poder de Alpha Condé. A economia cresceu, formou-se uma elite de administradores civis e as forças armadas foram modernizadas. Alpha Condé deveria ter terminado o seu último mandato em Novembro de 2020. Por razões constitucionais e de idade (82 anos). Cometeu o erro de mudar a constituição, para poder continuar no poder. E, com a idade, passou a ter um estilo de governação do tipo microgestão, em que tudo tinha que passar por ele. Muitas vezes, nos últimos tempos, deslocava-se aos ministérios para ver se os ministros estavam de facto a trabalhar.
Foi hoje derrubado por um golpe militar. E sai de cena pela porta das traseiras, quando em 2020 poderia ter saído pela porta grande.