Myanmar e a luta pela democracia
A Junta Militar, que se apoderou ilegalmente do poder em Myanmar em fevereiro do ano passado, executou hoje quatro activistas que haviam lutado pela democracia e os direitos humanos. Como muitos outros, haviam sido condenados à morte numa farsa de julgamento à porta fechada. A sua execução quebrou um período de mais de três décadas durante o qual nenhuma pena de morte fora efectivamente levada a acabo. O que agora aconteceu faz prever que outras execuções venham a acontecer nos próximos tempos.
A indignação dos povos de Myanmar e da comunidade internacional é imensa, tão vasta como o choque que a notícia provocou. Myanmar é um país multi-étnico e os seus cidadãos têm mostrado uma coragem exemplar em oposição ao golpe de estado. Mais de dois mil cidadãos perderam a vida, em manifestações de rua, que são sempre brutalmente reprimidas pelas forças armadas e de polícia do regime militar.
O regime militar está praticamente isolado, na cena regional e internacional. Mas é fortemente apoiado pelo Kremlin. Para além dos russos, existe uma significa presença chinesa, já que um dos corredores mais importantes da Nova Rota da Seda – pipelines e caminho de ferro – atravessa o país de alto a baixo. Tive há tempos a oportunidade de o visitar e de ouvir as queixas das populações, que foram expropriadas sem qualquer tipo de indemnização e à revelia dos direitos adquiridos ao longo de gerações. Aqui, mais uma vez, existe uma clara divisão de tarefas: os russos fornecem o apoio militar e os chineses tratam da economia.