Na Baixa em baixa
Hoje fiz algo que não fazia há quase um ano: ir à Baixa de Lisboa. E encontrei uma Lisboa a meio gás, ou mesmo menos. Os estabelecimentos comerciais que continuam abertos pouco mais fazem do que tentar sobreviver. E vários fecharam de vez, incluindo lojas que faziam parte da identidade da Baixa.
A única animação era a de um cidadão tresloucado, que percorria o Rossio de peito descoberto, a gritar palavrões e a assustar os poucos turistas que por ali andavam. Era óbvio que ninguém sabe o que fazer numa circunstância destas e que não há um tratamento oficial deste tipo de desgraças. Como em muitas outras coisas, deixa-se andar e finge-se que não se vê.
Havia também muita confusão sobre as novas medidas do governo sobre a covid, em particular sobre a necessidade de fazer valer um certificado de vacinação ou coisa equivalente, para ganhar acesso a um alojamento num hotel ou casa de Alojamento Local. Muitos dos poucos turistas que aparecem são jovens e, por isso, ainda não estão vacinados. Com as novas exigências, ficam numa situação embaraçosa.
Os engraxadores continuam a fazer parte da paisagem do Rossio. Mas não serão mais do que seis. E hoje já ninguém anda com sapatos que peçam graxa. Era o meu caso. Mas mesmo assim, sentei-me em frente de um deles. Limpou-me os mocassins por três euros e disse-me estar convencido que piores dias virão.