O Líbano e a sua crise
A situação no Líbano continua a ocupar as primeiras páginas da imprensa internacional. Hoje foi o governo que se demitiu. O país está a viver um novo período dramático da sua história. As instituições políticas e a economia estão de rastos e a vida de sectores importantes da população, sobretudo na capital, é um oceano de dificuldades. As forças armadas e alguns serviços de segurança são as únicas estruturas que conseguem ainda manter uma certa normalidade de funcionamento. Isso é surpreendente, mas não é suficiente para permitir o regresso à estabilidade.
Conheço muitos libaneses. Sempre admirei as suas capacidades de adaptação a ambientes difíceis e as suas habilidades como empreendedores. O problema reside nas elites políticas e nas que vivem à custa dos seus contactos com o mundo da política. Nesses círculos existem níveis muito elevados de corrupção e de ineficiência, devido ao clientelismo político, étnico, religioso e identitário.
A solução da gravíssima crise libanesa não pode vir do estrangeiro. Tem que ser construída por novas elites e por movimentos de cidadania que ultrapassem as clivagens existentes. O estrangeiro pode mobilizar ajuda humanitária e recursos financeiros de urgência, mas não pode nem deve tentar substituir-se aos responsáveis nacionais. Estes terão que olhar para o seu país de um modo diferente.
A ideia de um mandato internacional, de uma nova forma de subordinação do Líbano ao exterior, não é defensável. Isso são soluções do passado distante. Nada têm que ver com o mundo de hoje. As Nações Unidas ou um outro actor internacional não podem tomar conta do país. Alimentar esse tipo de ilusões é um erro e uma maneira de defraudar o povo libanês.