O sorteio dos assaltos
Recebi ontem um mail do director-geral dos impostos de Portugal –parece que lhe chamam Autoridade Tributária – a dizer que as minhas facturas de Janeiro iriam entrar no sorteio para a atribuição de um Audi da série não sei quantos.
Foi uma surpresa agradável.
Primeiro, porque em Janeiro - nem desde então – não estive um só dia em Portugal. Deve ser por causa da factura da EDP pela luz da casita que lá tenho fechada. Segundo, por notar que as Finanças não se esquecem de mim, apesar de eu não viver nem trabalhar nem ter qualquer rendimento em Portugal desde 1978. Terceiro, pela amabilidade que teve de enviar um mail, a dizer que eu também estou na lista dos milhões de facturas que irão a sorteio. É verdade que todos devem ter recebido um mail semelhante, mas fica-se contente quando uma mensagem personalizada nos é enviada pela Autoridade que zela pelos nossos impostos.
Só não gostei da ideia de ganhar um Audi. A única vez em que fui assaltado, em Portugal, durante uma breve passagem por Lisboa, foi quando a empresa de aluguer de automóveis me enfiou um carro dessa marca nas mãos. Os ladrões, sempre atentos aos sinais exteriores de ostentação, seguiram-me… E o resto é história.
Apesar do carrito, nessa minha infeliz aventura, ter sido da série mais baixa da marca.
Agora imaginem um trabalhador que ganha o salário mínimo mas que vê a Autoridade pôr-lhe nas mãos um Audi – o feliz premiado – a quantos assaltos não ficará potencialmente exposto.
Estes sorteios são um perigo para a segurança dos cidadãos.