Os portugueses e Le Pen
Filipe tem pouco mais de trinta anos, mas já vive na Suíça há cerca de doze. É condutor numa empresa. A sua mulher, também de nacionalidade portuguesa, trabalha numa casa de repouso para a terceira idade, como técnica especializada em geriatria. Vivem bem.
Por razões profissionais, sempre que vou à Suíça estou com o Filipe. E pergunto-lhe como vai a presença portuguesa nas terras helvéticas. A resposta, nos últimos anos, tem sido sempre a mesma. Filipe não gosta de ver chegar à Suíça novos imigrantes, e isso também se aplica aos que vêm de Portugal. É a favor de uma política mais apertada, que torne a imigração mais difícil e leve a uma diminuição das novas entradas. Na realidade, vê em cada imigrante que vá aparecendo um competidor, alguém disposto a trabalhar por um salário mais baixo e que poderá pôr em causa o seu emprego ou pelo menos, o seu nível de vida.
Se pudesse votar, o seu apoio iria para o partido nacionalista suíço, gente que se opõe à entrada de novos trabalhadores estrangeiros, mesmo quando provenientes de países da UE. Isto apesar do acordo que existe entre a Confederação Helvética e a UE sobre a livre circulação das pessoas.
Em França há muito português que pensa como o Filipe. Um bom número desses lusitanos já tem a nacionalidade francesa. Irão votar, amanhã. Sabe-se que muitos apoiam Marine Le Pen. Votam, sem hesitações, pelo partido da xenofobia, eles que ostentam nomes de família que são obviamente de fora, sem raízes gaulesas. Mas votam contra a onda que poderá vir a seguir. E que estará disposta a trabalhar em condições que os portugueses da primeira geração conheceram em França, anos atrás.