Peixe fresco numa cidade parada
Hoje foi dia de comprar peixe. É uma tarefa que normalmente ocorre às quartas, pela manhã. É o momento da semana em que chega mais peixe fresco. O comerciante de peixe, a dez minutos a pé aqui de casa, é um grossista que fornece os restaurantes e os hotéis, mas que também aceita compradores avulso, como nós. É tudo pago em dinheiro vivo, que o homem não gosta de plástico e ainda menos, do pessoal das finanças. Para os particulares não há recibos, nem facturas. Em compensação, vende um peixe fresco e de excelente qualidade. Agora, com os restaurantes fechados, o negócio está fraco. Mas as portas mantém-se abertas e a oferta não mudou.
É tudo vendido em filetes, para pessoal como eu, sem espinhas nem pele. Comprei eglefim (hadoque, também conhecido como arinca), um peixe excelente, vindo dos mares frios do Atlântico Norte, ao preço de 15,00 euros o quilo do filete. Também fui ao lombo de atum, que custa 30.50 euros por quilo, tudo limpo e pronto a cozinhar. E levei o inevitável lombo de bacalhau fresco, que vale 22.50 euros por cada quilo.
O hábito da casa é almoçar peixe dia sim, dia não. No dia não, come-se carne. E tal como a carne, a ração de peixe é sempre a mesma: mais ou menos 150 gramas por pessoa. O resto, são legumes, na frigideira, salteados num fundo de azeite. Nunca se come batata, e é raro fazer-se arroz. Não há sobras. Pão, só à noite, numa refeição ligeira, à hora do jantar, por volta das 19:00 horas. Quando se come fora, é, por regra, ao almoço.
Estas são as rotinas que procuramos manter, como se tudo fosse normal, fora das paredes da casa. Mas é estranho ir buscar peixe e sentir que a cidade está parada. Não há ninguém nas ruas. Esperar que o sinal passe ao verde, para atravessar, é uma forma de fingir que está tudo como dantes. A verdade é que verde ou vermelho, não há trânsito.