Sobre a Europa e os EUA
A negociação de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos está emperrada. Para começar, as filosofias económicas dos dois blocos são muito distintas. Do lado europeu, o peso do Estado e do sector público é elevado. As empresas estão muito dependentes da intervenção do Estado nos mercados, como agente económico e cliente, como regulador e fiscal permanente. Os cidadãos, por seu turno, preferem a certeza do emprego, a estabilidade e a previsibilidade, às eventuais recompensas que a concorrência e os ajustamentos frequentes lhes possam trazer. Temos a chamada economia social à ultraliberal que se pratica nos EUA. Mais terra a terra, existe um mundo de diferença entre a indústria agroalimentar que se pratica do outro lado do Atlântico, muito à base das mudanças genéticas dos produtos, e a que prevalece na Europa. E há grandes diferenças em muitos outros sectores, como por exemplo o automóvel ou o sector da energia. Existe, além disso, um bom nível de nacionalismo económico, de ambos os lados do oceano. A saga da multa que os EUA têm a intenção de impor ao banco francês BNP Paribas – fala-se numa multa à volta de 10 mil milhões de dólares – veio mostrar, para quem precisava de ter exemplos concretos, o estado de espírito que reina nos EUA em relação às grandes empresas europeias. Mas por cá, acontece o mesmo, embora de modo mais moderado. Ainda recentemente se falava em Paris e em Bruxelas no que seriam as áreas estratégicas, que deveriam ser salvaguardadas do controlo por investidores estrangeiros. A lista era, acima de tudo, um acto de fé patriótica. Tinha pouco e estava longe de ser um registo do que deveria ser verdadeiramente essencial para a sobrevivência e a continuidade de cada país europeu e do espaço comum. Era, aliás, mais nacional, Estado a Estado, que europeia.
Tudo isto mostra que estamos muito longe não só de uma Europa mais integrada como também de um relacionamento económico com os EUA que seja vantajoso para ambos os lados. Deve-se, por isso, abandonar a negociação com os americanos e tentar, primeiro, pôr a casa europeia em ordem? Não creio. Há que continuar ambos os projectos. E ter muita paciência. Ter paciência não quer dizer, no entanto, que não se continue a fazer pressão.