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Crescemos quando abrimos horizontes

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Sobre o Brexit e o resto

 

Derrotar e travar o euroceticismo, abrir o futuro

Victor Ângelo

 

 

            Os argumentos a favor da permanência da Grã-Bretanha na UE têm estado excessivamente focalizados nas dimensões económicas. Agora foi a vez da OCDE vir à liça para dizer que o Brexit provocaria uma quebra de 5% do PIB britânico, ao longo dos próximos anos. Vinda donde vem, essa estimativa merece alguma atenção. Reforça, aliás, a posição de outras instituições, como o FMI, que já haviam sublinhado os custos elevados que uma eventual saída da UE poderia acarretar para as famílias no Reino Unido.

            Os prejuízos económicos poderão ser evidentes para os macroeconomistas e para as grandes empresas, bem como para uma parte dos eleitores, mas não devem ser o ponto fulcral da disputa num referendo com fortes matizes nacionalistas. Pesam, é verdade, mas de modo relativo. E acentuá-los em demasia abre espaço aos que dizem que a campanha pelo sim se baseia no exagero e na exploração dos temores. Sem esquecer que muitos cidadãos consideram estas questões da macroeconomia como cortinas de fumo, que escondem os interesses dos poderosos e das multinacionais. Por isso, há que tratá-las com muito cuidado.

            O que está em jogo é uma decisão fundamentalmente política. Ora, a política move-se noutra esfera, para além da sensatez e da contabilidade do deve e do haver. Aqui lembro que Jean Jaurès, o grande líder socialista francês do início do século XX, garantia em 1914, uns meses antes do início da conflagração europeia, que se podia apostar na paz, pois a guerra ficaria demasiado cara. É verdade que a Grande Guerra teve custos incalculáveis, para além das imensas tragédias humanas. Mas foi a escolha política de então, apesar das palavras tão avisadas de Jaurès. Com o Brexit poderá acontecer o mesmo.

            O domínio da política pura e dura jaz no simbolismo e nas opções visceralmente emotivas. É a esse nível que se deve travar o combate para evitar o terramoto anunciado para 23 de junho e as ondas de choque que poderão vir a seguir. Entre outras dimensões, há que dizer que o Brexit assenta em mitos irrealistas e inaceitáveis. É o mito da superioridade britânica em relação aos outros europeus. É a crença confusa na existência de uma maneira de ver e de ser universalista, que foi capaz de criar um império onde o sol nunca se punha e que hoje se sente constrangida pela tacanhez e o provincianismo do resto dos europeus. E é a ilusão que vê na Europa um espaço de submissão e não uma alavanca capaz de multiplicar o alcance de cada um dos estados membros. No fundo, uma parte dos britânicos está prisioneira de uma atitude de desconsideração em relação ao resto da Europa, sobretudo no que respeita aos países do centro e do sul do nosso continente.

            Mais ainda, o argumento político deve poder tratar da imigração sem papas na língua. Os europeus que hoje trabalham na Grã-Bretanha contribuem de modo inequívoco para a economia do país. Em números absolutos, estamos a falar de 1,6 milhões de trabalhadores. Representam, no entanto, apenas 6% da mão-de-obra total. Falar de uma invasão é um exagero. Mesmo no sector da hotelaria e restauração, onde encontramos uma maior proporção de cidadãos vindos de outros países da UE, a percentagem não ultrapassa os 14%. Por muito que os adeptos do Brexit gritem e agitem o papão, não se verifica uma emigração descontrolada de desempregados e mendicantes europeus a caminho do Reino Unido.

            Há ainda um outro ponto em relação ao qual temos de ser francos. Para ganhar o referendo também é preciso um maior empenho da liderança do Partido Trabalhista. Jeremy Corbyn tem a obrigação de ser mais claro no seu apoio à continuidade europeia. Já só lhe restam quinze dias para o fazer. Necessita de mostrar ousadia e visão, e isso não está a acontecer. Tem que saber falar sobre o futuro do seu país e também sobre os nossos interesses comuns, face a outros centros de poder, às ameaças externas e às rivalidades geoestratégicas. E deve combater as tendências xenófobas que os promotores do Brexit estão a alimentar.

            Há aqui uma exigência moral, igualmente. Não podemos deixar que a Europa se fragmente. Nem queremos que o ceticismo ganhe mais peso e espaço. Por outro lado, a UE precisa de continuar a ouvir as perspetivas britânicas à volta de uma mesma mesa, redonda e comum. Trata-se muitas vezes, é verdade, de uma voz diferente. Mas isso realça as nuances, traz uma outra filosofia política para a discussão, matiza as diversas posições, e tem o efeito de enriquecer a substância do projeto comum. Gerir e valorizar as diferenças, bem como dar esperança e segurança, são as provas de maturidade que os líderes europeus têm que saber resolver.

 

(Texto que esta semana publico na Visão on line)

 

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