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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

As serras e a política

Passei os últimos dias na estrada. E vi partes do Alto Alentejo, das Beiras (Alta e Baixa) bastante secas. Bem mais secas este ano do que nos anos anteriores, quando, na mesma altura do ano, fiz percursos idênticos. Lembrei-me, mais uma vez, que a gestão das águas de superfície e subterrâneas vai ser uma das grandes questões que teremos de enfrentar. Não me parece, no entanto, que o assunto esteja presente no ecrã dos nossos políticos. Parecem não ver ou então, acham que é complicado e passam ao lado.

Como também haveria necessidade de definir uma política e um plano de reflorestação das terras e das serras, algo que é igualmente ignorado.

Quando me dizem que não há nada de novo na política, penso no muito que vi por fazer durante esta viagem. E na urgência de trazer para a agenda política dos próximos anos a água, as florestas e o reordenamento do território. Só que para isso, é preciso ter-se uma visão do país que alcance para além do imediato.

 

Uma política sem água

O Público de hoje tem um texto muito bom sobre o problema da água no Algarve. Escreve nomeadamente sobre a enorme pressão que novos tipos de agricultura comercial e o novo campo de golf de Tavira exercem sobre os recursos hídricos, numa região cada vez mais seca. Esses são apenas exemplos do descuido e dos erros que por aí existem. Mas o pior é que a política da água não está na agenda dos partidos políticos. É um cegueira completa, que só mostra a incompetência e a falta de visão estratégica de quem anda pelas nossas ruas da política.

A gestão da água e falta de visão política

Passei um par de dias a conduzir pelas zonas fronteiriças que separam o Baixo Alentejo e o Algarve da província espanhola de Huelva. Ambos os lados estão a fazer um uso intensivo das reservas de água disponíveis. Não parece haver regras, nem uma visão sustentável da gestão do recurso. Primam os olivais, os laranjais, os diversos pomares, as vinhas e outras culturas, bem como uma utilização desenfreada da água para alimentar uma proliferação de piscinas e de jardins privados. As reservas freáticas e os lençóis em profundidade, que se formaram ao longo de milhões de anos, estão sob pressão frenética, por motivos comerciais e porque os novos-ricos querem que as suas residências secundárias se assemelhem às vivendas das estrelas de Hollywood. O próprio Alqueva está a ser chupado a toda a velocidade, para regar centenas de milhares de pés de oliveiras, campos de milho a perder de vista – sim, em pleno Verão, milho nas securas do Baixo Alentejo, mas que aberração – e uvas e mais uvas. A floresta tradicional, menos exigente em água, mais adaptada ao clima e às condições do solo, só sobrevive nas zonas de serra e onde se cria o porco ibérico.

A água será, nestas regiões, e noutras da Península, uma das grandes questões do futuro. E poderá vir a ser, à volta do Guadiana, uma fonte de tensão entre os dois países vizinhos. É um tema essencialmente político, que é totalmente ignorado pelos anões políticos que por aí andam.

Desafios a prazo

Na opinião de um conjunto de especialistas em geopolítica, os grandes desafios globais em 2050 serão, por ordem de importância, os seguintes:

  • Escassez de recursos naturais
  • Excesso de população
  • Extremismo violento
  • Guerras entre estados
  • Conflitos civis, no interior das fronteiras nacionais

O primeiro da lista, relativo aos recursos naturais, é o mais consensual. Quase metade dos especialistas consultados considera que se trata da questão central.

A sobrepopulação é vista com ansiedade por um quarto dos participantes na discussão.

As outras questões pesam menos na balança das preocupações.

 

 

O futuro já começou

Volto a escrever, na Visão que hoje foi posta à venda, sobre as grandes questões do futuro.

 

Mas também acrescento um parágrafo sobre Portugal e a sua falta de vistas largas.

 

Vejam, por favor, o site: 

 

http://aeiou.visao.pt/vistas-largas=f633846 

 

Dois leitores já comentaram o texto, com muita pertinência.

 

Quem mais vai acrescentar umas palavras de reflexão?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um dia de calor

 

O dia de ontem terminou com uma festa de despedida. Organizada pelo pessoal da MINURCAT, os da Sede, em N´Djaména, com a participação animada de um dos melhores grupos de dança tradicional do Sul do Chade. Uns dançarinos excepcionais, que nos revelaram várias facetas das cerimónias de iniciação, que continuam vivas nestas paragens. Foi também interessante ver alguns dos nossos jovens funcionários nacionais, que normalmente andam de fato e gravata, acompanhar os ritmos, como se a música fizesse parte dos seus génes.

 

Este é um país culturalmente muito diverso. Enquanto os tambores do Sul batem com a energia da África banto, fazendo vibrar todos os poros dos que sabem viver esssas músicas, e acentuando o erotismo das florestas por explorar, os naturais do Centro e Norte mexem o corpo, lentamente, com a graça oriental das cortes dos sultões.

 

Entre os pratos tradicionais, havia uma dobrada de cabra, certamente um animal duramente experiente da vida, preparada pela minha Assistente de muitos anos, uma mulher das terras mais amenas da África Austral. Claro que tive que me servir. O resto, não digo.

 

Foi um fim de tarde quente. Durante o dia a temperatura do ar andou a namorar os 48 graus. Em Março, é assim.

 

A manhã começara com uma reunião com todos os embaixadores residentes em N'djaména. A reunião mensal, que para mim foi a última, era a oportunidade para dizer "Thank you" e passar à frente. Tudo muito correcto, sem mais. Depois, tive um longo tête-à-tête com o Presidente Idriss Deby. O encontro começou em público, com a minha condecoração com o grau de Oficial da Ordem Nacional do Chade. Um gesto raro. Uma Ordem de elite. Depois, ficámos sós, para falar sobre o Sudão, esta parte do Continente Africano, projectos, água, um tema central para as gentes do Sahel, segurança, e o futuro das Nações Unidas nestas areias. Foi um diálogo com elevação, descontraído, que as ideias são para serem confrontadas, não as pessoas.

 

Já mais tarde, à hora das orações de Sexta-feira, o Representante Especial do Presidente ofereceu-me um camelo. Lindo. Com calabaças e tudo, aparelhado a rigor. O RE, que responde pelo nome de General Dagache, quatro estrelas e muitas dunas de combate,  batalhas muitas, a morder o pó dos ventos áridos, homem com ossos e pele, mas nada mais, que o deserto não é para grandes comidas, é natural do Sahara, não muito longe do fim do mundo que é a região de fronteira com a Líbia. O camelo é a fonte da vida, nesses cantos perdidos, onde a beleza das montanhas roídas por milhões de anos de vento nos faz imaginar catedrais do surrealismo mais ousado. O camelo e água, que brota aqui e ali, nos oásis que se escondem para além das miragens.

 

O meu camelo está agora em casa, grande e majestuoso, à espera de um caixote que o leve para as terras molhadas da beira-Tejo. É uma peça de madeira que vale a pena que atravesse o deserto. 

 

Restos estalinistas

 

Os países a montante dos grandes rios da região, têm recursos aquíferos abundantes. Mas não têm electricidade em quantidade suficiente. Os que se encontram a jusante, têm gás e petróleo.  Sofrem, contudo, de falta de água. Outrora membros da União Soviética, hoje não se entendem. Esta é a sina dos Estados da Ásia Central, do Casaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. Quatro milhões quilómetros quadrados, 61 milhões de habitantes, vastas estepes, montanhas a furar os céus, temperaturas extremas.

 

Está em curso uma tentativa, por parte das Nações Unidas, para criar condições de confiança política entre estes vizinhos, que são também paredes meias com o Afeganistão, a China, situam-se nas paragens do Paquistão e dos fundamentalismos, e estão na rota do ópio.

 

Esta parte do globo está a tornar-se uma zona estratégica importante. É, além disso, uma zona fascinante, berço de grandes culturas, belezas naturais únicas, e de um grande exotismo. Estive em contacto com Asgabate, a capital do Turcomenistão. Um longa conversa. A tentar perceber o que se pode fazer nesse mundo. Nada fácil, que a zona continua muito influenciada pela maneira de encarar as coisas que era própria dos anos de Estaline. Será possível mudar as mentalidades e promover a cooperação política que a região precisa?

 

Entretanto o Mar Aral vai desaparecendo, os glaciares estão a derreter-se, o meio ambiente a degradar-se. A vida dos cidadãos é cada vez mais difícil. Os ditadores fecham-se nos seus palácios, rodeados por cortes de homens-eco. 

Água doce

 

Copyright V. Ângelo

 

 

Comecemos pelas contas. Um hora no jacto, a caminho do Nordeste, 800 km. Mais 80 minutos de helicóptero, em direcção ao Norte, são à volta de 300 km. Já em terra, no deserto, 20 minutos de carro, 7 km. Uma viagem longa, com ida e volta, hoje. Mas continuemos as contas. Uma hora de permanência no local, 30 kg de areia por toda a parte do corpo e do vestuário. Fomos apanhados por uma tempestade de pó fino e areia grossa. Deu para termos um almoço de areia, que entrava por onde podia e nos arranhava a garganta.

 

Um balanço pesado. Que, todavia, valeu a pena. Inaugurámos, no sítio onde apenas a secura é abundante, um poço artesiano de 130 metros de profundidade. Os meus militares noruegueses, senhores de um equipamento de prospecção avançado, descobriram na zona, em Iriba, a mais de 100 metros no subsolo, depois de uma camada de argila quase impenetrável, um lago subterrâneo. Tem cerca de 5 km de comprimento e 200 metros, da superfície ao leito. Em pleno deserto.

 

A capacidade de produção diária é de 125 metros cúbicos. As reservas actuais cobrem as necessidades de várias gerações vindouras, se forem bem administradas.

 

Uma verdadeira revolução. Quando a água começou a sair das entranhas da terra, a população nem queria acreditar. As crianças colocaram-se à frente do jacto de água e dançavam, encharcadas até aos ossos. Claro que com o pó que haviam acumulado, foi uma limpeza.

 

Quem não gostou da festa foi o Sultão da área. Sua Majestade possuía, até agora, os dois únicos miseráveis furos da região. A venda de água tem sido uma das suas principais fontes de riqueza. E de poder, que o líquido da vida é um instrumento de controlo dos outros.

O Prefeito, que é a autoridade administrativa da região, sempre viu o poder do Sultão com maus olhos. Rivalidades. São familiares, aliás, mas cada um puxa a manta do mando para o seu lado. Agora, a dinâmica social vai ter mais água pelo meio.

 

A fotografia, no alto da página, mostra um canto do oásis de Iriba. Mesmo onde a vida é dura, há sempre a possibilidade de usufruir da sombra mais fresca de um oásis.

 

 

 

Fomes, excessos e possibilidades

 

A cimeira sobre a segurança alimentar, que hoje começou em Roma, por iniciativa da FAO, é a terceira, esta década, sobre os problemas da fome no mundo. Mas a verdade é que continuamos a ser cegos, não notamos, nem queremos ver, que este é um problema que poderia ser resolvido. Existem conhecimentos suficientes e técnicas adequadas para garantir um mínimo para todos. Faltam, apenas, os líderes à altura. A coragem das decisões, uma outra visão da vida.

 

Ainda na semana passada, a equipa militar de hidrologistas noruegueses, que está agora em missão no Chade, descobriu um lençol de águas subterrâneas às portas da cidade de Iriba, no deserto. Iriba vive na miséria, com falta de água, sem conseguir dar de beber aos seus habitantes, que nem vale a pena pensar nos animais e nas plantas. É uma terra de areias e de securas. Sem agricultura, com os camelos perdidos nas pedras que cercam a pobreza das pessoas.

 

E a água existe. Trata-se, simplesmente, de ter os meios que nós temos, para a encontrar. O resto é uma questão de furos, tubos e decisões políticas equilibradas. Que o acesso à água é uma das fontes de desigualdades sociais.

 

É, um pouco por toda a parte, a mesma situação. Onde hoje se morre de fome e sede, com juízo e meios técnicos, é possível, amanhã, produzir as culturas que fazem viver. 

 

Mas também há que evitar um consumo excessivo, uma demografia sem controlo e uma pecuária sem limites.

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