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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Não se deve dourar a pílula

Um dos objectivos do discurso de Ano Novo do Presidente da República tem que ver com o chamado Programa Cautelar. Cavaco Silva quis dizer aos Portugueses que vem aí, após o termo do programa actual com a “Troika”, um novo pacote de medidas. E apresentou a coisa como se se tratasse de algo absolutamente natural e anódino. Disse mesmo que “um programa cautelar é uma realidade diferente”.

 

A realidade de um programa dito cautelar é outra. Trata-se da continuação de um acordo com instituições financeiras internacionais ou supranacionais. Uma das partes compromete-se a emprestar dinheiro a taxas mais favoráveis que as praticadas pelo mercado enquanto a outra terá que cumprir toda uma série de reformas administrativas e financeiras. Ou seja, durante a vigência do anunciado programa cautelar vai ser necessário tomar certas medidas de fundo.

 

O problema é mais complexo do que nos querem fazer crer. Os credores exteriores sabem que o governo actual não irá muito além de meados de 2015. O programa cautelar vai, por isso, ser um programa curto, de 12 meses, para caber no período de vigência da presente governação. E os credores vão procurar incluir nesse período reduzido todo um pacote de reformas que eles consideram indispensáveis para a competitividade de Portugal e para o equilíbrio sustentável das contas públicas. Será um pacote bem recheado. E difícil de fazer aceitar. Daí a previsão que existe hoje, em certos círculos europeus, de que Portugal vai ser um país de grande agitação social nos próximos tempos.

 

Este é o ano de 2014 que temos pela frente.

 

É importante ter esperança no futuro. Mas é igualmente necessário falar das coisas como elas são.

 

 

 

 

A União Europeia em 2014

O último Conselho Europeu deste ano começou ontem e termina hoje. Como de costume, um vasto perímetro de Bruxelas, em torno das instituições europeias, está sob um controlo apertado da polícia federal belga. Os meios mobilizados são imensos, sobretudo por ter havido uma manifestação de agricultores europeus. Quando estes vêm para a rua, com as suas máquinas agrícolas e produtos do campo, a confusão nas ruas da cidade à volta do Berlaymont é grande.

 

Onde não houve confusão foi à mesa da cimeira. Os líderes que mais contam, que não têm medo de falar abertamente, mostraram claramente o que querem, no que respeita às próximas etapas da integração europeia. Querem uma pausa. A integração, no seu entender, deve ser feita com base no que já existe. Para eles, este não é o momento para novas frentes.

 

Mostraram também que não tencionam alargar ou aprofundar os poderes da Comissão Europeia. A aposta, para eles, continua a ser na soberania nacional e nos acordos entre estados.

 

Não será muito, em termos da construção da União. É o que eu já esperava e que havia escrito em textos recentes que publiquei na Visão. Não haverá grandes mudanças enquanto não se entrar num novo ciclo, com um novo Presidente à frente da Comissão. O que só deverá acontecer perto do início do último trimestre de 2014.

 

O ano novo vai ser, por isso, um compasso de espera na construção europeia. Mas é assim que se faz a história.

 

 

 

 

 

 

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