Já quase no termo do ano, sou dos que foram surpreendidos em 2016 por uma série de acontecimentos de sinal negativo, na cena internacional. Foi um ano de agravamento das tensões a vários níveis. Abriu a porta a um futuro como vários imponderáveis.
Nem todos os riscos serão, para já, visíveis. Mas não se pode ignorar que existe toda uma gama possível. Perante isso, 2017 é um convite à coragem e à franqueza. Um convite que se impõe a quem ainda tem um mínimo de bom senso e de esperança.
Terminada que está a minha última viagem de um ano de muitas viagens, começa agora o período dos balanços. E, em certa medida, a preocupação é a de encontrar o ângulo positivo das coisas.
Não será fácil. Mas não é uma luta perdida.
Em termos da cena internacional, tem sido um ano de muitas decepções políticas e de grande instabilidade geoestratégica. Em termos mais terra a terra, foi um período de grande sofrimento para muitos, no Médio Oriente, no Norte de África e no Sahel, no Afeganistão e noutros sítios. Aqui, mais perto da nossa porta, foi mais um ano de crise na Ucrânia e no Mar Mediterrâneo, entre os imigrantes e os candidatos ao refúgio. Foi igualmente um tempo em que virou moda atacar o projecto europeu e botar as culpas em cima de Jean-Claude Juncker e de Donald Tusk.
Acabou, acima de tudo, por ser o ano de Donald Trump e o que isso significa em termos de agravamento das intolerâncias nos EUA e das tensões internacionais.
Para além de tudo isto, 2016 surgiu como um período que nos deixa uma enorme interrogação: qual deve ser o nosso desempenho público, que papel assumir, enquanto parte da Europa privilegiada e da elite que tem beneficiado da globalização das relações internacionais?
De imediato, a maneira positiva de ver essa interpelação deve passar pela coragem das opiniões expressas, pela continuação da luta pelo progresso social de todos os que o procuram e pela defesa dos direitos humanos e de liberdade de cada um de nós. Mais ainda, há que estar atento para não se cair nem no pessimismo que nos fecha os horizontes nem na crítica fácil, cínica e demolidora.
Este novo ano foi anunciado com preocupação. E está a começar de modo preocupante.
O xadrez de crises no Médio Oriente está hoje mais complicado e imprevisível. A confrontação entre a Arábia Saudita e o Irão passou para um nível mais arriscado. E tem um impacto em toda a região, sobretudo na Síria, no Iraque e no Iémen. Mais a Oriente, as tensões entre a Índia e o Paquistão ganharam um novo impulso, com o ataque que acaba de ter lugar contra uma base da aviação indiana, na zona de fronteira com o país rival. Ainda mais a Leste, a rivalidade marítima entre a China e o Vietname agravou-se este fim-de-semana.
Na Europa, a questão das migrações levou a Suécia a adoptar medidas de controlo fronteiriço em relação a quem vem da Dinamarca por terra. Esta, por sua vez, apertou hoje as verificações na fronteira com a Alemanha. Fala-se de Schengen e dos riscos em que este acordo fundamental para a construção europeia se encontra. Talvez haja um certo exagero quanto ao futuro de Schengen, uma morte anunciada prematuramente, mas a verdade é que não surgiram ainda medidas comunitárias que nos tranquilizem.
E do lado russo, a retórica continua a não ser das melhores. As cabeças de quem manda em Moscovo continuam a ver as relações com a Europa e os Estados Unidos à moda da Guerra Fria. Ora, essa época já passou. Do lado Ocidental, já são poucos os que sabem o que isso queria dizer.
Quanto aos mercados, as bolsas entraram em 2016 com quedas acentuadas. Por causa da China, que está a crescer menos do que o previsto, e também por motivo das incertezas geopolíticas. Curiosamente, foi o mercado de acções alemão que mais perdeu, no conjunto da Europa. A razão é clara: as empresas alemãs estão em boa medida dependentes das suas exportações para a China.
No meu primeiro escrito do ano novo, tenho que ser positivo. Faz parte da quadra festiva. E também das resoluções habituais nesta época.
É verdade que tenho lido, na mais variada imprensa, muito prognóstico negativo sobre 2016. Há um grande pessimismo no ar, a diferentes níveis. Nomeadamente sobre a Europa.
Um ponto de partida assim não é o melhor. E não tem em conta que há por aí muita gente a lutar para que as coisas não corram mal. A nossa voz deve, isso sim, juntar-se à voz dessas pessoas.
Aqui fica a promessa de uma escrita construtiva em 2016. Espero ser capaz de a manter.
Em pano de fundo, oiço repetidamente, este serão, o barulho de sirenes. A polícia anda atarefada, em buscas que garantam uma passagem do ano tranquila.
O acesso ao coração da cidade, onde terá lugar a festa popular da chegada do novo ano, vai estar bastante condicionado e ser filtrado de modo sistemático. Os carros particulares terão que ficar estacionados bem longe do centro. Mas as pessoas irão à festa. A segurança apertada, nestes momentos de grandes concentrações de cidadãos, já faz parte da normalidade. Aceita-se sem pestanejar.
A resposta a estas novas ameaças tem sido feita de modo coordenado. Aqui só há uma polícia encarregue da segurança interna. Não há competições nem preocupações de protagonismo. É verdade que nem sempre houve uma ligação correcta entre a polícia federal e as polícias locais. Esse problema está agora resolvido.
Por outro lado, a análise das ameaças é feita por um órgão independente, sem qualquer interferência do poder político. É uma apreciação técnica, com base nas informações provenientes da polícia, da inteligência militar e da Segurança do Estado (Sûreté de l´État). Tudo o que se sabe é posto em cima da mesa e analisado com muita atenção. O resultado é então transmitido ao Primeiro-ministro e aos ministros competentes, para que as decisões estratégicas sejam tomadas.
Entretanto, as responsabilidades individuais e institucionais em matéria de identificação de casos de radicalização estão a ser melhor definidas. Essa é uma das etapas mais urgentes e, ao mesmo tempo, das mais delicadas. Exige, além disso, meios de investigação que neste momento parecem ser insuficientes.
E assim se vão organizando as coisas. É uma questão de eficiência, mas sem pânico.